(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

12.4.12

Bendita maldição


- Eu vou ter dois: o Gonçalo e a Tatiana.  – Afirmou o Tomás com a sua voz derretida. – E tu, João?-
- Eu vou ter cinco! Quatro rapazes e uma menina! –
- Tantos, filho? Bolas, nem sabes no que te metes.  – Avisei.
- Pensas o quê, mãe? Eu quero uma família de jeito! –
   Sorri e calei-me. Ainda é cedo para lhes dizer algo que só descobri no dia em que nasceram: os filhos são uma benção e uma maldição.  O chamamento ancestral de assegurar descendência e uma infinidade de outras razões,  continuam a fazer com que muitos de nós apenas se sintam “completos” depois de ter filhos.
   As bençãos de se ter filhos são tantas e tão indizíveis que nem me atrevo a ir por aí, embora quanto a mim, duas das maiores bençãos que os meus filhos me dão sejam as brilhantes lições de vida e as constantes gargalhadas que me arrancam pelos mais incríveis motivos.
   Quanto à maldição, por favor não me entendam mal mas, quando o nosso amor está dentro de corpinhos que ganham vida própria ao desagarrar-se das nossas entranhas, o mundo torna-se assustador. Percebi isso no momento em que eles saíram de mim: a minha vida tinha mudado para sempre; nunca nada do que eu fizesse seria alguma vez suficiente para os proteger como eu quero; haveria,  para todo o meu sempre ( assim o esperamos todos), alguém a quem nunca poderia falhar, alguém que manteria a minha preocupação e instinto protetor sempre alerta.
   Sim, os filhos são uma maldição. Mas a mais bendita maldição que um ser humano pode ter.
Ana Dias