(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

2.5.12

Mazurrão


  Devia ter escrito esta crónica há cerca de duas semanas, enquanto os factos ainda estavam fresquinhos. Agora terei que usar essa ferramenta (por vezes falível) a que chamamos memória e tentar recriar com fidedignidade o que aconteceu.
  Era domingo e fui tomar a minha meia de leite a um café que fica um pouco a norte de Altura, de seu nome “Carrapato” mas que, apesar do nome algo estranho, tem os melhores caracóis cá da zona.
  Instalei-me, meia ensonada, a beberricar o meu néctar matinal e não pude deixar de ouvir a conversa de dois senhores de idade, que implicavam um com o outro.
- Tu devias era chatear-te a sério com isso! – Dizia um.
- Eu não me chateio com nada… - As reticências que deixou no ar pareceram-me encerrar um: “isso dá muito trabalho.”
- Claro! – Tornou o primeiro. – Estás sempre aí feito mazurrão! –
  Espero que ninguém tenha reparado que quase me engasguei com o café com leite que tinha na boca! A minha reação foi idêntica à dos caçadores ao ver a presa. Procurei freneticamente o meu bloco de notas dentro da mala e apontei aquela prenda dos céus antes de ter tempo de me esquecer da palavra.
  Mazurrão! Como eu adoro viver no Algarve profundo! Uma pessoa pensa que já viu e ouviu tudo e eis que, no mais insuspeito momento, nos cai um tesouro ao colo! Tenho andado em investigações ( mais ou menos) profundas e ninguém conhece a palavra. Até procurei no google… e nada! Vale-me o facto de ter continuado atenta à conversa e ter entendido, pelo contexto,  que mazurrão talvez seja mais ou menos parecido a preguiçoso.
  O que é certo é que,  nesse dia, vim mais rica do café!  Trazia uma alegria estranha. Como podia explicar a quem me rodeia que aquela palavra me fez ganhar o dia? Serei uma colecionadora de palavras? Bem, de qualquer forma  aqui a deixo, para o caso de, se algum dia vos chamarem “mazurrão” ou “mazurrona”, poderem responder: - Nem pense nisso! Eu até sou muito trabalhador/a! –
Ana Dias