(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.10.12

Espanto



   Uma das muitas coisas parvas que faço com frequência é brincar aos alienígenas. Não requer  muito tempo, não precisa de companhia  e nem sequer  de qualquer tipo de adereço, no entanto é  simples ao ponto de se poder “jogar”  em qualquer lugar e ocasião.  Mas deixem-me explicar,  pois talvez  se vejam  tentados  a experimentar.
  Quando me lembro, imagino que sou um extraterrestre acabado de chegar à Terra e começo a olhar para tudo como se fosse a primeira vez; com a incredulidade de quem nada sabe e com um espanto absoluto por todas as coisas.   Com pouco esforço chego bem depressa a uma espécie de realidade paralela interior em que a única sensação que me invade é o espanto. De repente tudo fica diferente pois o olhar é completamente inocente. Não sei para que servem as coisas; não sei o que são; vejo seres a emitir sons,  mas não os entendo; vejo coisas móveis e imóveis, cores, texturas; sinto os elementos sem os saber nomear e os cheiros  sem os conseguir associar; aprecio as ações, as causas e efeitos, sem nada entender…  E o que sobra de tudo?   A beleza!  Uma visão completamente nova, limpa e espantada que me acomanha no regresso à realidade.
   Na fotografia que ilustra  esta crónica, contudo, não precisei de brincar aos alienígenas para me espantar: a minha pequenez,  no sopé deste magnífico ser vivo, foi mais do que suficiente para acionar o encantamento agradecido que tantas vezes sinto pelo Mundo.
Ana Amorim Dias