Comecei recentemente uma das minhas crónicas diárias no facebook ( prazenteiro e inócuo vício sem o qual já não estou bem...) queixando-me da intensa actividade profissional que, em certas épocas, me cai em cima como uma avalanche que me deixa atordoada, mas feliz. E foi assim que, numa manhã de segunda feira, comecei a dissertar:
“Mais um fim de semana que parece ter durado dez dias!! Uma actividade tão grande e intensa que à noite (tarde, muito tarde), quando finalmente o corpo me cai inerte no colchão depois de 18 ou 19 horas seguidas de trabalho, me tento lembrar do início do dia e me parece que os acontecimentos matinais foram passados antes de ontem!”
Mas as lamúrias prosseguem:
“ Mais um fim de semana de poucas palavras escritas (faz-me mal , isto!!) e de muitas palavras faladas, de muitos actos, acções e outras “agitações”… E, no meio de toda a profusão de trabalho, festa, gente, comida, música…. há algo que me “persegue” a alma… uma frase que se forma dentro de mim e não me abandona até que a “atenda” como um médico atende o seu paciente!! “
Afinal, nessa segunda feira de manhã não me estava só a queixar… Gosto de fazer bailar as palavras mas não permito que me saiam desprovidas de algo mais que só um bom rodopio! Continuo a tal crónica matinal com a revelação da frase que me acompanhou as longas horas de trabalho e agitação:
“ O que determina verdadeiramente o Homem não são as palavras e sim as acções” . Não sei se ouvi isto em algum sítio ou se o pensamento brotou por si . (De qualquer forma jamais serei pretenciosa a ponto de pensar que estou a pensar algo nunca antes pensado!!) . Mas como pode uma escritora subvalorizar assim as palavras?? Que triste conclusão é esta que coloca os actos acima das delas?? Estava irritada comigo mesma por estar a trair de forma tão cruamente vil as palavras que tanto amo!!
“Mas Vamos por partes!” - Escrevi eu aos meus pacientes seguidores… “ Acompanhem-me! As palavras são algo belo: são a estrada que nos liga a todos os outros seres; são o mecanismo com que se “atravessa a ponte” que nos separa do outro. … Poderia falar das palavras horas e horas, a gabar-lhes os benefícios, a exaltar-lhes a extrema beleza… mas a verdade é só uma: sou uma pessoa de palavras, mas chego à conclusão que o que realmente me faz ser quem sou são os actos que, a cada momento, concretizo!”
Então páro uns segundos enquanto dou mais um “solvo” na meia de leite, essa fiel companheira matinal, e penso na verdade com que me sai o que escrevo. Certo ou errado, feio ou bonito, futuro alvo de concordância ou de profundo desagrado… não me importo com mais nada: apenas com a coerência e a verdade que sinto nas palavras que me brotam. Penso em exemplos práticos e escrevo, então, alguns deles ( poucos, que a experência já me disse que mais vale desejado que aborrecido)….:
“De que serve, por exemplo, ensinar os nossos filhos com palavras e conselhos?? A verdade não está nas palavras… Está nos actos, nos exemplos!!
Será que uma pessoa que ameaça, grita e usa palavras feias é realmente má? E se essa mesma pessoa, passado o calor da emoção, se redime com actos de ternura e nobreza surpreendentes? O que prevalece? As palavras? Ou os actos?
E o que dizer daquelas pessoas cujas palavras deixam antever as maiores virtudes, mas cujos actos transmitem exactamente o contrário??
E, enquanto releio o que fiz, digo a mim mesma:
“ Caneco, pá! Tu já viste que as tuas crónicas têm sempre perguntas? É que é a torto e a direito!!” Mas depressa me respondo: “Claro que faço perguntas ! Eu não tenho respostas para os outros, nem me compete ter… apenas partilho reflexões e aprecio deixar os outros a pensar…. Não sou dona da verdade de ninguém, excepto, talvez, da minha!!”
Por isso termino a crónica com o que, para mim, é verdade:
“Quem me conhece diz, com frequência, que tenho o poder da acção. Eu sei que tenho o da acção e o da palavra… Mas sei, com toda a certeza, que por mais que algum dia as minhas palavras se tornem ícones de beleza literária, o meu verdadeiro legado serão sempre, e acima de tudo, os meus actos!!!!
Conclusão: sai-me mais uma crónica cujos comentários me espantam pela quantidade e, sobretudo, pela qualidade (se há coisa boa no anonimato é a inocência e credulidade com que os elogios se recebem…). Apercebo-me de que é por falar de coisas tão banais como o que pensei enquanto tomava banho ou as arrumações de Primavera, que consigo “tocar” nos outros.. Compreendo que é por falar com algum subliminar código que todo o ser humano entende, que tantas vezes “oiço” que se identificam tremendamente com as palavras que a acção me faz escrever…. E agora se faz nova luz, neste preciso momento: a acção dos meus sorrisos e do olhar franco não chegam para mudar o Mundo… mas será que a acção das palavras não mudará alguns rumos??? Enquanto espero que se respondam a tantas e tantas perguntas, vou continuando a agir, determinada, com acções… e com palavras!!!
Um abraço,
Ana Dias
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