(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

21.11.11

Os esquilos

   O João entra no British Museum e fica espantado com as pessoas que lá estão, espalhadas pelo chão, de bloco de desenho na mão a registar com o seu cunho pessoal os artefactos expostos. Não se exalta com a beleza e importância do local e de todo o seu espólio: apenas lhe importa ter, também ele, um bloco de folhas brancas e um pedaço de carvão, para poder dar rédea solta à sua forma de ver o mundo.  Depressa percebemos que o melhor é arranjar-lhe papel e lápis. E, sem saber muito bem como, acabo por demorar por ali muito mais do que contava, deliciada a ver o meu filho de seis anos empolgado a desenhar tudo a que consegue deitar o olho.
  Viajar é isto. Ser surpreendido pelo inesperado e encontrar o encanto em pequenos “nadas” que nos invadem a cada nova esquina. Viajar é ver o que se planeou e é ler as entrelinhas, espreitar os sinais, viver o momento. Viajar é encantar quem se leva na “bagagem” e ser encantado pela sua companhia feita de espanto e cansaço. É regressar mais rico e encontar mais riqueza no ponto de partida.
  Perguntei aos meus filhos qual foi o momento de que mais gostaram e, depois de todo o esforço e investimento, percebo que foi algo tão simples como os esquilos que habitam os jardins do palácio de Buckingham… E é nesse momento que percebo que, para mim, o ponto alto foi o reencontro de um velho amigo com quem há tanto tempo não estava… e as gargalhadas que demos enquanto mostravamos Londres aos miúdos.
As viagens são isso mesmo: surpresas que se fotografam, acima de tudo, com a memória.
Ana Dias