(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

16.11.12

Pauzinhos chineses




   Sentei-me com o prato de sushi à frente. Peguei nos talheres para começar a comer e percebi que havia algo errado. Por mera preguiça ainda tentei  dar início à refeição, mas não consegui.  Tive que esperar um pouco  perante a deliciosa iguaria, para que me trouxessem os pauzinhos chineses e só então me entreguei a um prazer que com talheres normais não me teria sabido da mesma forma.
   Isto já se passou há dias e embora o sushi seja, tanto quanto sei, japonês,  o episódio voltou-me à lembrança quando li as notícias sobre o novo dirigente chinês.  Xi Jinping protagonizou, pela segunda vez na história recente da China, uma transição pacífica do poder. O novo presidente e chefe do partido comunista  foi também nomeado comandante das forças armadas. Ao que parece a esposa é uma cantora famosa e a filha estuda nos Estados Unidos mas, não sei porquê, nada disso me tranquiliza. 
    Também não percebo porque é que “levamos” com avalanches noticiosas sobre as eleições americanas e, em relação às chinesas, nos apresentam, em breves instantes, os factos já consumados.  No entanto esta observação é só um detalhe. O que estou hoje a debater comigo é o porquê do meu temor chinês!   Isto deve ter começado por culpa do Quino e da sua “Mafaldinha”, que eu tanto consumi na infância. Ou pode ser pela consciência de que aquela civilização de sólida cultura milenar e preparação genética para o trabalho ainda não se apoderou do Mundo simplesmente porque não quis.  Assusta-me o seu número. Assusta-me o seu poderio económico e capacidade ( com terríveis condições ) de produção.  Assusta-me o total sacrifício do interesse individual em prol do bem comum. Nenhuma das civilizações ocidentais está preparada para competir com algo daquela magnitude e, por isso mesmo, os resultados têm estado cada vez mais à vista. O que pensar de um país que, levando a  cabo a construção de uma barragem, tem capacidade para despejar e realojar nada mais nada menos que um milhão de pessoas? Assusta-me…
    E assusta-me a tal ponto que, há uns anos , até fiquei admirada comigo por ter conseguido passear sozinha pelas ruas de Chinatown em  Nova York… eu que já tinha “fugido” de uma loja de chineses em Vila Real de Santo António devido à forma agressiva como o dono estava a falar ao telefone!
   Sim, confesso-me hoje e aqui. Tenho medo da China, e concordo que a devemos deixar “dormir”. O mais possível. Só não sei é como é que devo reagir à minha impulsão de comer comida chinesa e japonesa … com pauzinhos!
Ana Amorim Dias