(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

13.11.12

Santíssimo Sacramento!



- Por aqui! –  Desviei-me do  percurso e comecei a subir a rua que estava à nossa esquerda.
- Mas por aqui porquê? –
- Sei lá eu! Por aqui porque sim!-
    Passados breves instantes percebi de novo a razão de seguir os meus impulsos. Espreitei para o interior de um restaurante que, tenho que  confessar, me deixou impressionada.  Uma placa, logo à  entrada, explicava a importância do edifício, mas o que mais me prendeu foi a soberba conjugação de bom gosto e requinte. 
Visitei todos os espaços do espaço. Pé ante pé, revencial e meditativa.  Caminhando como quem desliza num museu que é  em si mesmo, também, uma obra de arte.
- Posso ajudar? – Um jovem funcionário aproximou-se de nós.
- Obrigada. – Respondi.- Estamos só a ver, mas creio que viremos cá jantar daqui a pouco.
- E têm reserva?  -
- Não… É preciso? –
- Dêm-me um segundo enquanto verifico a agenda para hoje.  – Desapareceu e voltou em segundos.  – Penso que não deve haver problema, ainda há bastantes vagas. 
 Pensei que estivesse a usar de um pouco de bluff. Não estava a conseguir  imaginar que , a uma segunda feira,  a considerável capacidade do restaurante  ficasse lotada.
   Saí e voltei um pouco mais tarde.  O impecável staff já se atarefava em atenções aos clientes. Indicaram-nos mesa. Sentámo-nos e escolhemos o que iríamos comer, trocando algumas impressões baixinho. Foi então que o senhor que se  estava a encarregar de nós  se aproximou e, com uma simpatia sólida e discreta,  confirmou: - Então será o polvo à lagareiro e a espetada de tamboril e camarão, certo? –
- “ Santíssimo Sacramento!” – Pensei. – “ O staff é composto por agentes secretos!”.  E tal suposição acompanhou-me ao observá-los a trabalhar. O pefil e atitude de qualquer um deles, a par com o estilo dos clientes que foram enchendo completamente o espaço, fizeram-me acreditar que estava a jantar num filme.
  Não sou crítica de restaurantes, mas este merece mesmo que não me poupe às palavras!  Tudo no “Sacramento” do Chiado merece a nota máxima.  O edifício e a forma como está  mantido e sublimemente decorado; a apresentação das mesas e dos pratos; os odores e  sabores;  a temperatura do ar e a seleção musical. Tudo a conjugar-se para  a experiência gastronómica perfeita. 
   Passou a ser, definitivamente, um dos meus preferidos. Não posso deixar de o aconselhar e repetir. Porque é raro, muito raro mesmo, encontrar “pérolas”  tão perfeitas que a única alteração que eu faria seria no nome: acrescentava “santíssimo” a  “sacramento”.
Ana Amorim Dias