(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.12.12


A alma das paredes

  Quando se abre um bar, restaurante, ou qualquer outro negócio em que os clientes permanecem no espaço enquanto o serviço está a ser prestado, não se deve esperar um grande sucesso repentino.
  Fico sempre a olhar com piedade para quem tem tal expectativa porque das duas uma: ou fica defraudado pela "casa" quase vazia, ou tem grandes enchentes iniciais que rapidamente se cansam e mudam de poiso.
  Quem abre um estabelecimento deste tipo tem que perceber duas coisas. A primeira é que os negócios duradouros e consistentes precisam de vários anos para se consolidar. A segunda é que o segredo do sucesso está na alma das paredes. Os locais têm que absorver os sons das vozes cúmplices, das gargalhadas sonoras, das confissões meio ébrias. As paredes precisam de assimilar os odores dos perfumes, o cheiro das velas e das iguarias. O chão tem que ser pisado por emoções e partilhas, festejos e tacões altos, envergados com sedução.
    E é só quando as paredes já passaram meses e anos a captar a vida ali vivida, sentida e celebrada,  que o sítio começa a ganhar alma... e pernas para andar.
Ana Amorim Dias


Quem é que te entende?

  Um dia destes dei por mim a pensar nas frases que mais oiço por parte de quem me atura todos os dias e compilei uma curta lista:
1 - Mããããããeeeeeee...anda cá!-
2 - És a melhor mãe do mundo / és a pior mãe do mundo!-
3 - Adoro-te / amo-te / és linda-
4 - Isto vai dar crónica, não vai?-
5 - Estás impossível!-
6 - Quem é que te entende????-

    Cheguei à conclusão que se tivesse que escolher uma frase preferida não teria quaisquer dúvidas em optar pela número seis. É que as pessoas não são para entender, são para aceitar. Certo?? Qual era a piada de sermos absolutamente lineares e legíveis? Onde ficaria o nosso misterioso encanto se nos tornássemos facilmente decifráveis?
  É claro que o "quem é que te entende?" tinha que ser
a minha frase preferida: é que até para mim gosto de ser um mistério!

Ana Amorim Dias