(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.9.11

A festa

   Os meus pais estiveram casados quarenta e nove anos, seis meses e seis dias!  Fariam hoje cinquenta anos de vida a dois. 
  Como se diz por aí, não há casa onde o sol não entre e a união dos dois seres que me deram a vida não terá sido  sempre um mar de rosas… mas foi, sem dúvida, um terreno fértil  para uma  prole vasta  ( e meio louca…) e para um amor que durou tanto tempo quanto o tempo permitiu. 
  Embora a grande festa com que o meu pai sonhou  para o dia de hoje, não se tenha realizado, o amor da vida dele viveu um jantar risonho e animado na companhia de todos os filhos.  Não sei o que terá passado pela cabeça e pelo coração da minha mãe esta noite, até porque a sua atitude composta e recatada pouco deixa vislumbrar o lá por dentro ocorre, mas de algumas  coisas estou segura:  sentiu a presença dele em todos nós; agradeceu-lhe em silêncio   os quarenta e nove anos, seis meses e seis dias de coisas boas e más, de lutas e triunfos, de amor  e companhia …
   E há pouco, quando a deixei em casa, disse-lhe que  ficou o legado. O meu pai pode não ter estado presente por si próprio na sua grande festa, mas esteve em amor, em legado e  em carga genética… E como, para mim, o amor não morre na ausência, brindo aos meus pais… que fizeram hoje cinquenta anos de casados!
Ana Dias