(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.12.11

Matilde


   Quando ela chegou eu percebi logo que havia tempestade. O sorriso, forçado e mal desenhado, não conseguia disfarçar os resquícios de choro que lhe sobravam no olhar.
- Foi ele, não foi?  - Perguntei-lhe,  apreensivo.
- Ó Pedro… Eu não entendo… Estava tudo a correr tão bem. Parecia que ele gostava mesmo de mim. Como pude entender tudo mal?
- Querida, querida, Matilde… - Olhei-a,  com um suspiro, enquanto lhe segurava nas mãos. A nossa amizade é assim. Ela sofre e liga-me. Eu estou feliz e ligo-lhe a ela.
- Não entendo! Só gostava que me explicassem porque é que eu entendo mal os sinais! Começámos este relacionamento tão bem. Ele gostava de mim! Porque é que se afastou? -
- Pára de falar e ouve-me! Tu és linda, Matilde! Maravilhosa, na verdade. Mas tens que aprender uma coisa sobre os homens: há muitos que têm medo de amar. É por isso que acontece muitas vezes isto… Um relacionamento a despontar, tudo a encaixar na perfeição e , de repente… pff, eles desaparecem no espaço! E quase todos os que fogem do amor, fazem-no no exato momento em que percebem que estão na vertigem do momento do não retorno… -
-  Como sabes disso, Pedro? –
- Como poderia não saber? ... Sou um homem…-
Ana Dias