(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

16.2.13

De meteoritos e faturas

De meteoritos e faturas

- Isto agora é só meteoritos a cair! Olha do que se foram lembrar, hã?-
Ri-me perdidamente. Como se a culpa disso também fosse do nosso doce Governo e dos legisladores mentecaptos.
Comecei logo a deambular nas avenidas da minha imaginação sem conseguir parar de rir.
E se, sem que ninguém se tenha apercebido, saiu em Diário da República que as pessoas que não pedem fatura seriam atingidas por fragmentos de meteorito e o serviço contratado pelo Estado falhou o alvo, caindo nos Urais?
Quem é que vai pagar mesmo tendo corrido mal? Claro: os mesmos que pagam buracos negros bancários, máfias elitistas e submarinos assucatados.
Por outro lado, se o meteorito não foi contratado por duzentos mil milhões de euros pelo Estado português para punir os perigosos criminosos que não pedem a fatura do café, que teria acontecido se o dito corpo celeste tivesse caído mesmo em terras lusas?
Já estou a ver o Gasparzinho, a esfregar as mãos de contentamento. Afinal um meteorito no nosso espaço aéreo quanto não pagaria de portagem?

Ana Amorim Dias

Era uma vez uma Quinta

Era uma vez uma Quinta

Olho pela janela do quarto, com o já primaveril Sol a alaranjar-me a manhã.
Lá em baixo, junto à figueira raínha, consigo ainda ver os passos daquele Homem que, na sua imensa sabedoria e abundância, soube deixar, mais que a matéria, um espírito de tenacidade que continua a nortear todos os seus descendentes. Chamava-se João. Claro, só podia.
Era uma vez uma Quinta. Feita de estórias e com amor. Era uma vez uma Quinta que guarda lembranças e tem alma nas paredes. Um sítio lindo, acarinhado por tanta gente que lhe sobram mimos e legados de uma prolixa diversidade. Era uma vez uma Quinta que, depois de muitos anos a fazer com que as festas sejam de um brilho ainda mais festivo, inicia hoje uma nova fase, abrindo para todos de sexta a domingo.
Não sei como vai correr mais esta etapa. Nunca há como saber. Mas de uma coisa tenho a certeza: que em cada caipirinha, em cada sangria de frutos vermelhos, biscoito caseiro ou pãozinho recheado que me tocar fazer, irá muito mais que a matéria. Irá o espirito de quem faz por e com amor. Irá o sabor afrodisíaco da inspiração deleitada com que escrevo e me enamoro, a cada momento, pela vida.
Faço por isso sinceros votos de que apreciem não só o espaço e o bons sabores, como a mística inerente a tudo o que é feito por uma escritora e mais alguns seres inspirados.

Ana Amorim Dias

Document 1

Dias de paixão

A celebração dos apaixonados no mês de Fevereiro remonta tanto aos feitos de são Valentim pelos sacramentos que dava, contra ordens instituídas, aos casais enamorados (e à própria paixão que a lenda conta ter vivido antes da sua execução) como às festividades em honra da Deusa Juno na Roma antiga.
Quando se encara este dia com o limitador espartilho de "dia dos namorados" fico sempre com uma certa pena dos casais de pombinhos que, nada sabendo da vida e muito pouco do amor, trocam inocentes juras eternas com caixas de bombons no regaço. Existe uma colossal distância entre os casalitos justapostos que, tudo fazendo para se agradar mutuamente, vão escavando sem saber a sepultura de breves paixões e as pessoas que sabem viver sempre em estado de paixão pura.
Prefiro encarar este dia como mais um dos 365 dias que o ano deve ter em plena exultação dos afetos, amores e paixões. Um dia em que talvez devamos repensar de um modo mais consciente na forma como deixamos que os amorosos sentimentos nos dominem e na maneira como nos deixamos amar.
Há pouco mais de um ano, depois de ver um espectáculo de tango em Buenos Aires, escrevi a crónica "A vida num tango" em cujo final desejei a mim mesma a vida num tango. Nesse momento epifânico compreendi que, independente de quem a cada momento amamos, devemos fazê-lo total e desmedidamente, com o derradeiro arrepio, que nos arranca o ar dos pulmões, a arrastar-se no tempo. Por mais que tenhamos suaves afetos, carinhosos amores ou sofridas paixões, temos a obrigação, pelo mesmos perante nós mesmos, de sentir e viver tudo com um total e comprometido empenho, reinventando-nos a cada momento na nossa indomabilidade ancestral. Porque na vida nada pode ser mais garantido que a nossa relação connosco e com o compromisso de viver eternamente enamorados.
Assim sendo instituo hoje e aqui o meu apelido como Dias, mas Dias de paixão.

Ana Amorim Dias