(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

8.4.12

Renascer


   Jesus foi um nazareno dissidente. Alguém tão fantástico, poderoso e especial que tiveram que acabar com ele. Não conseguiram.  E a prova disso é o facto de a sua vida e ensinamentos continuarem, até hoje, a ser celebrados. No dia da festa da sua ressurreição vi-me na contingência de explicar aos meus filhos o porquê de não os acompanhar à missa que tal facto festeja. Fiz o melhor que pude mas receio que muitos anos se passem até que me entendam. Ou talvez não.
  Não sou nazarena, nem me considero dissidente. E longe de mim a pretensão de  me comparar a um ser tão iluminado e fantástico como Cristo. Mas, tal como cada um de vós, lá vou atravessando por vezes umas cruzes bem pesadas e alguns momentos de dor, em que me consola o facto de, tal como Jesus, conseguir ser forte e  fiel aos princípios que me guiam, não obstante as “crucificações” e “mortes” que vou tendo que enfrentar.  
  Hoje escrevo-vos de uma silenciosa capela, no meio do campo, onde apenas se ouvem as folhas a abanar ao vento, os pássaros a festejar a Primavera e outros sinais da natureza viva, também ela renascida. Escrevo-vos dos locais onde mais consigo sentir a fé. Escrevo-vos da terra e do meu corpo, essas voláteis casas de  Deus, seja lá qual for a sua forma e essência. Porque a fé é algo privado, que não precisa de uma multidão para se mostrar ou fazer ouvir.  Escrevo-vos a ouvir o renascer que em vós brota a cada instante, mesmo que não o consigam ver nem sentir. Porque todos renascemos constantemente: nas células, nos pensamentos e no que sentimos. E é assim mesmo que deve ser. Primeiro morremos no momento que acabou de passar, bom ou mau, marcante ou nem por isso. Depois ressurgimos, melhores ou não, numa sequência tão eterna quanto a nossa precária durabilidade permite. Porque, no fundo,  tudo é eterno. Pelo menos enquanto dura.
  Hoje escrevo-vos de uma silenciosa capela no meio do campo,  com uma fé consistente e renovada,  que celebra o constante renascer de todos nós … como seres cada vez melhores.  
Ana Dias