(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

19.2.13

O intervalo entre as nuvens

O intervalo entre as nuvens

Na minha primeira ida ao Brasil andei entre Salvador da Baía e o Rio de Janeiro. Sempre que numa das cidades havia bom tempo eu estava na outra. Apesar de, não sei muito bem como, ter conseguido fazer um pouco de praia a norte de Salvador e na praia do Leblon, a sorte maior aconteceu no momento da visita ao Cristo Redentor.
Enquanto o "bondjinho" me transportava para o cume do morro do Corcovado, as nuvens adensavam-se lá no topo. No entanto, na hora de ver a vista encantadora da cidade maravilhosa, o céu limpou como que por magia, permitindo-me o privilégio de degustar condignamente uma das incontáveis paisagens épicas em que este nosso Mundinho é pródigo. Mas o momento de vir embora chegou e, com ele, voltaram as cerradas nuvens, que me deixaram com dó dos turistas que não tiveram a mesma benção dos céus.
Apesar de já muitos anos terem passado desde esse dia em que o tempo se abriu num presente perfeito, lembro-me disto amiúde. Sempre existirão nuvens e sempre haverá céu limpo, bem como alturas em que a natureza, no momento certo, nos permite ver com toda a nitidez as mais belas paisagens.

Ana Amorim Dias

Associas-me a quê?

Associas-me a quê?

Estava dizer-lhe que associo o barulho do ar condicionado do meu quarto a uma série televisiva já antiga, sobre uma enfermeira americana no Vietnam. Tudo porque o arrancar do aparelho me faz lembrar o barulho dos helicópteros que traziam os feridos.
- E tu a mim associas-me a quê?-
Já não faço a mínima ideia do que respondi, mas fiquei a pensar nas associações que adoraria que os outros fizessem à minha pessoa. Gostava que me associassem a boas energias, a gargalhadas e sorrisos. Gostava que me associassem a amor e paixão, sonhos e esperança, força e inspiração. Ficaria completamente feliz se me associassem a uma imaginativa loucura ou a um estilo anarquicamente alternativo de encarar tudo na vida. Mas então interrompo-me e percebo: que importa a forma como os outros nos vêem? Desde que sejamos o mais genuínos possível e consigamos associar-nos nós mesmos ao que nos é mais querido, os bons entendedores saberão "ler-nos" bem.

Ana Amorim Dias