Há cinquenta e uma horas que não escrevo, mais coisa, menos coisa. Estou sonolenta: acasos do dia-a-dia não me têm permitido dormir. Tenho fome. O almoço de hoje foi a única refeição decente a que, nos últimos dois dias, me rendi. E mesmo assim comi à pressa. Vou buscar cerejas ao frigorífico. Ou será melhor um sumo de manga? Sempre dá menos trabalho…
Mas a fome que realmente sinto é a fome de escrever. E o sono que me invade é o da inércia, por tanto tempo, dos dedos sobre as teclas. Cinquenta e uma horas… cinquenta e duas daqui a nada! As cerejas que esperem! Ou o sumo de manga, não sei! Por agora só o dedilhar das teclas e o fluir das palavras me podem tirar a fome. E o sono.
- Não fazes mais isto, ouviste? – Digo-me.
- Não. Claro que não! – Respondo-me.
– Cinquenta e uma horas… quase cinquenta e duas… que vergonha, Ana! – Insisto de mim para mim.
- Eu sei, eu sei! Podia ter roubado cinco minutos ao tempo e aplacado o vício à alma… Não se volta a repetir! – Respondo-me de novo.
- Não lhes dizes? – Recomeço. –
- Claro que sim. Esta crónica é mesmo para isso! –
É. É para isso, esta crónica. Para vos pedir paciência porque as crónicas diárias já não “sairão” às nove e meia da manhã. Talvez até nem me “saiam” todos os dias. Mas prometi-me não voltar a estar tanto tempo sem escrever. É horrível! Dá-me fome ao coração; sede à alma; frio à vida e sono aos pensamentos. A crónica (quase) diária “sairá”. Apenas não sei a que horas, pelo menos até ao fim do Verão e ao regresso dos miúdos à escola. Por isso não deixem de cá passar: os meus Dias Escritos cá estarão à vossa espera.
Bem, agora vou às cerejas. Ou será ao sumo de manga?
Ana Amorim Dias