(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.5.12

Carta a uma mãe


    Hoje escrevo só para ti. Por isso ouve-me com a voz de menina decidida que há muito tempo já fui. Olha-me de cima para baixo, como me olhavas quando eu era pequenina e te seguia, casa fora, atrás de uma lindíssima Deusa de flutuantes vestidos. Sente-me como me sentias quando o meu tamanho ainda permitia que me aninhasse no colo do teu doce perfume. Quero que me vejas, oiças e sintas na invacilável  pureza de criança com que eternamente te chamarei de MÃE.
   Hoje escrevo só para ti e  quero que saibas o quanto entendo e me encantam as palavras que no silêncio me dizes. Quero que saibas que sinto cada gota  de orgulho que tens nas minhas conquistas; que sinto cada onda de alegre prazer  com  que a minha boa disposição te enrola;  que sinto cada aragem  de divino  com que as minhas palavras te embalam.
   Hoje escrevo só para ti porque o cordão que nos une é feito do aço eterno de um amor maior que a vida; porque te sinto a estóica tristeza de não saberes aplacar-me os desgostos; porque te conheço o desejo de que todos os meus caminhos sejam feitos só de alegria; porque sei que me entendes as escolhas mesmo quando não as percebes e me devolves toda a paz como tu  e só tu consegues.  
   Hoje escrevo só para ti porque só de ti posso em verdade dizer o quanto és nobre, forte e muito, muito bela. És uma caixa de gloriosas surpresas envolta em pose serena. És presença encantadora na minha encantada visão. És o mar de águas mais calmas em que jamais naveguei.
  E é por isso que nunca duvidei do meu pai quando embevecido dizia que as suas filhas eram lindas, mas que  mais linda que nós era a mãe das filhas dele.
Hoje escrevo só para ti. Ouve-me com voz de menina.
Ana Dias