(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.11.12

Vou ali, já volto



     Esta frase esteve desaparecida do meu imaginário ainda infantil durante bom tempo.  Voltou  de  repente.  Como um conjunto de iluminações natalícias que subitamente se ligam e trazem muito mais que luz.
   “Vou ali, já volto”  era a frase do meu pai sempre que queria mostrar  incredulidade ou indignação.  Quando optava por se fazer de tolo perante alguma situação em que a atitude mais digna era desvalorizá-la e voltar-lhe as costas, saía-lhe o “vou ali,  já volto”.   E eu achava piada à subtileza que envolvia tais palavras, por virem daquele homem tão grande que de subtil pouco tinha.
  O “vou ali, já volto” é muito maior que uma frase. É um ramo importante da árvore da sabedoria pois representa  a capacidade de lidar bem com o que não importa, deixando cair por terra vindouras irritações.  Não foi, contudo, assim que a frase ganhou de novo vida em mim. Isto aconteceu  com contornos ainda mais valiosos:  é que o “vou ali, já volto” também pode muito bem ser a atitude que temos perante os outros e que nos faz estar sempre presentes … mesmo quando vamos ali e já não voltamos.
Ana Amorim Dias