“ As palavras salvam-me sempre da tristeza.” Quem o disse foi Truman Capote, o escritor norte americano que viveu no século passado. Entre alguns dos seus sucessos contam-se os romances “A sangue frio” e “Boneca de luxo”, ( o tal Breakfast at Tifany’s a que a Audrey Hepburn deu vida).
Quando li esta sua frase, identifiquei-me de imediato com ela. Fiquei a mastigá-la e a saboreá-la mas, depois de a engolir, percebi que continuava com fome por, a meu ver, ser demasiado redutora.
Creio que cada escritor é salvo pelas palavras de diferente forma e se alguns são resgatados à tristeza, outros talvez sejam salvos de coisas como a loucura, o vazio ou o conformismo.
É óbvio que fiquei a pensar. De que me salvam a mim as palavras? Da monotonia? Da fealdade do Mundo? Salvar-me-ão do tédio, da tristeza, das dores d’alma ou das questões do dia a dia? Percebi muito depressa que as palavras não são a minha salvação. As palavras são os meus olhos e ouvidos; as minhas pernas e braços. Elas são os meus pulmões, o meu coração e a minha alma. As palavras que escrevo são o Eu daquele instante; a golfada de ar que me permite viver; a força do batimento que me bombeia o sangue e mantém com a energia em alta. Não sei como pode viver quem não habita em palavras. Como “existe” quem não escreve? Quem se “é” sem o bailado encantado das ideias com o verbo? Sinto que estas são questões a que jamais saberei responder.
Hoje, como todos os dias, foi por isso que aqui passei: não pela esperança de redenção nem para ser arrancada à tristeza. Vim escrever só porque sim. Vim escrever por ser só nas palavras que existo… completamente a salvo.
Ana Amorim Dias