(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

20.8.12

A salvo




   “ As palavras salvam-me sempre da tristeza.”  Quem o disse foi Truman Capote, o  escritor norte americano que viveu   no século passado.  Entre alguns dos seus sucessos contam-se os romances  “A sangue frio” e “Boneca de luxo”,  ( o tal Breakfast at Tifany’s  a que a Audrey Hepburn deu vida).
   Quando li esta sua frase, identifiquei-me de imediato com ela. Fiquei a mastigá-la e a saboreá-la mas, depois de a engolir, percebi que continuava com fome por, a meu ver, ser demasiado redutora.   
    Creio que cada escritor é salvo pelas palavras de diferente forma e se alguns são resgatados à tristeza, outros talvez  sejam salvos de coisas como a loucura, o vazio ou o conformismo.
    É óbvio que fiquei a pensar. De que me salvam a mim as palavras? Da monotonia? Da fealdade do Mundo? Salvar-me-ão do tédio, da tristeza, das dores d’alma ou das questões do dia a dia? Percebi muito depressa que as palavras não são a minha salvação. As palavras são os meus olhos e ouvidos; as minhas pernas e braços. Elas são os meus pulmões, o meu coração e a minha alma. As palavras que escrevo são o Eu daquele instante; a golfada de ar que me permite viver; a força do batimento que me bombeia o sangue e mantém com a energia em alta. Não sei como pode viver quem não habita em palavras. Como “existe” quem não escreve?  Quem se “é” sem o bailado encantado das ideias  com o verbo?  Sinto que estas são questões a que jamais saberei responder.
   Hoje, como todos os dias, foi por isso que aqui passei: não pela esperança de redenção nem para ser arrancada à tristeza. Vim escrever só porque sim. Vim escrever por ser só nas palavras que  existo… completamente a salvo.  
Ana Amorim Dias