(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

27.9.11

O muro

- Mas serei  eu o muro das lamentações? - pergunto-me ao lembrar os últimos três dias. Não foram uma nem duas… foram cinco pessoas diferentes a chorar junto a mim! Uma nem lhe cheguei a saber o motivo das caudalosas lágrimas, mas consegui deixá-la a rir. Outros choraram por mortes, perdas e amores desfeitos.
  Isto leva-me a pensar várias coisas. Em primeiro lugar faz-me gostar ainda mais um bocadinho de mim por saber ouvir e por ter o coração tão aberto e afectuoso que faz com que outras pessoas (uma delas acabei de a conhecer poucos minutos antes do pluvioso desabafo) se sintam suficientemente seguras e acompanhadas para derramar os seus mais profundos desgostos.
  Chego também à conclusão que não há vidas sem dores, sem desgostos e sem choro. Todos temos, algures cá no fundo, algo por que chorar. Será que a vida seria vida sem a emoção purificadora das lágrimas?
  E páro um pouco enquanto me pergunto: afinal porque choramos? E como se param as lágrimas e se abafam as dores? Como se afoga e mata o desgosto de um amor perdido, de um pai que morreu quando se era ainda criança ou de uma irmã que morre de cancro? Choramos porque o choro limpa e faz-nos reconciliar com o que, muitas vezes, ninguém tem culpa.
  Ser humano é sentir e sentir é deixar que as coisas nos toquem, nos esmaguem e nos façam contorcer por dentro com indizíveis dores… e aí temos que chorar.  Mas ser humano também traz a magnífica potencialidade da sabedoria e essa nossa poderosa aliada é quem nos faz entender ( com sorte mais cedo que mais tarde) que tudo o que nos faz chorar também nos pode fazer sorrir. Quem perde um amor é porque teve a fortuna de o viver. Quem perde um pai é porque em tempos o teve e quem vê uma irmã morrer de cancro lhe sente a falta é porque teve a benção da irmandade.
  Também eu verti lágrimas junto a quem chorou comigo. Porque ser humano é sentir. Sentirmo-nos a nós e sentirmos os outros, por mais que a sua passagem junto a nós seja fugaz…
   Em tempos escrevi no “Zoia”: “Carmen estava (…) com uma tristeza cansada de estar triste”. E agora escrevo: é a chorar que a nossa tristeza fica cansada de estar triste e, qual borboleta que sai renascida do seu casulo, se transforma em força e alegria…
Ana Dias

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