(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

26.1.12

Lar de afetos


  Quando ontem cheguei de novo, cansada e feliz, a casa do Vítor e da Micá, comentei com um suspiro:
- Como é bom estar em casa! –
O meu desabafo, tão verdadeiro quanto sentido, causou-lhes risos. Afinal apenas cá tinha pernoitado três noites e estou a milhares de quilómetros de casa… Mas o abraço paternal do Vítor, o sorriso ternurento da Micá e o olhar orgulhoso da minha mãe, tiraram-me, num segundo, a nostalgia do adeus a Buenos Aires!
 Hoje, enquanto almoçávamos na paradisíaca casa do Álvaro e do Víctor Emanuel, seus amigos,  comentei precisamente isso: que o lar está onde se encontram os afetos. E não foi à toa nem levianamente que me senti também lá como se a minha terceira nuvem à esquerda se tivesse, de súbito, materializado. A beleza etérea  e indescritível daquele cantinho de céu, deixou-me a meio caminho entre a comoção e o pasmo. Cada recando tem alma, história, estórias e afetos. Cada detalhe revela a exultação criativa e existencial dos seus criadores/ocupantes. Quem vive assim,  na mais perfeita réplica de éden terrestre é porque, indiscutivelmente, o merece.
   Mas não foi só a beleza mística do local, nem a sua fabulosa energia,  que me fascinaram. Perguntei-lhes se me queriam adotar por me conseguir imaginar a viver num sítio assim, e na companhia de duas pessoas tão magnéticas e preciosas.
- Somos almas gémeas.  – Disse-me o Álvaro, também escritor (  e matemático e escultor e dono de várias outras capacidades criativas ) após falarmos um pouco e nos antendermos a um nível tão profundo quanto se podem entender dois seres que falam a mesma linguagem interior.
Respondi-lhe com o olhar. E ele sabe o que lhe disse. Porque, bem feitas as contas, sentimo-nos em casa onde quer que haja velhos afetos… ou novos afetos se criem!
Ana Dias