Quem é que é louco o suficiente para percorrer quase quatrocentos quilómetros (ida e volta) depois de um longo dia de trabalho, só para ir jantar a um bom restaurante?
Pois… podem apontar para mim… Aceitei o convite e lá fui. Enfiei os putos dentro do carro (mesmo sabendo que a rabaldaria no banco de trás me ia fazer ficar com uma monumental dor de cabeça) e acabei por chegar ao dito local quase às dez da noite!!
Contra todas as previsões, os meus angelicais demónios, embora esfomeados, portaram-se com toda a desenvoltura e boa educação que a situação impunha… Acho que os nossos “treinos” de jantares requintados no bar da piscina estão a dar frutos pois não falaram alto, não andaram à bulha, usaram o guardanapo de pano com uma desenvoltura surpreendente e comeram com um tipo de postura quase surpreendente! Degustaram a refeição como dois pequenos principes ( venham cá dizer que dar gourmet às crianças é dar pérolas a porcos!!) não deixando nos pratos nem a mais pequena folha de rúcula…
Enquanto o autor de tão simpático convite me agradecia por lhe ter dado a graça de conhecer os dois seres mais maravilhosos da Terra, seus filhos, confesso que fiquei sem palavras… (…) Mas houve outro motivo para o meu silêncio: eu tinha Deus dentro da boca… Estava a viver um milagre e que me perdoe quem pense que isto é uma blasfémia, mas Deus revela-se nas mais pequenas coisas… Estava a viver o milagre de chegar ao céu da boca!!! Descobri um novo sentido para a expressão céu da boca… não que tenha sido a melhor comida que já comi porque como com frequência a melhor comida do mundo, mas aquela experiência foi de tal forma mística e reveladora que que apurou não só os sentidos do corpo como os da alma.
Nos duzentos quilómetros que me separavam de casa tomei os comandos da viatura e mandei o sono embora, na certeza de ter nas minhas mãos a responsabilidade da segurança de um homem bom e de dois futuros homens de bem. Fui cantando baixinho, satisteita por me confiarem tão plenamente as suas vidas naqueles três sonos profundos. E quando pensava nas saudades que tenho do homem em quem mais confiei, aquele que me deu a vida, ele brindou-me com um sorridente beijo na forma de uma estrela cadente ( gozem o que quiserem mas sei sempre que é o meu pai que me manda certos sinais…), orgulhoso da obra que, em mim, deixou… E, tal como o meu pai era o “alimentador” e protector dos seus, também eu o serei sempre com todos a quem amo… Para que sintam sempre o céu na boca… e no coração….
Ana Dias
Sem comentários:
Enviar um comentário