(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

Uma questão de tamanho

Uma questão de tamanho

O Ilídio chegou e atirou-me as chaves.
- Vá, vai!
Acho que é louco o suficiente para me deixar a mota nas mãos. Mas, como sou uma pessoa consciente, ainda só tive nove aulas e estaria a cometer uma ilegalidade (e um atentado contra a minha segurança?), optei por apenas me sentar em cima da "coisa". Uma BMW 1200, cheia de malas atrás e tão alta que até com o meu metro e setenta e sete só com a ponta dos pés conseguia tocar em simultâneo o asfalto.
- Liga lá, para lhe sentires os tremores. - provocou-me.
- Mas tu estás doido? Esta ainda consegue ser mais assustadora que a pesada Road King do Eric! Pelo menos com essa poiso completamente os pés no chão!

Ora venham cá dizer que o tamanho não importa! Quem diz isso é porque nunca se sentou em cima de motas assim. O curioso é que, olhando para a foto em que me estava a desmontar da mítica Harley que correu o mundo, a vejo muito mais pequena do que quando lá estou em cima. E isto conduz-me a algumas reflexões sobre a relação da forma como encaramos os tamanhos em função da proximidade. É claro que uma baleia ou uma montanha, vistas ao longe, se apresentam com uma grandeza mais pequenina do que quando as admiramos bem de perto. Da mesma forma que é certo que, quando se domina um monstro maior e se passa depois para outro mais pequeno, este último deixa de ter o grande tamanho com que inicialmente era visto.
Daqui a pouco volto à Honda 500 para a terceira aula sobre ela. Se na segunda lição já a senti um pouco mais pequena, creio que hoje a sentirei ainda mais enfezada (sobretudo depois de ter estado sobre a BMW matulona). É certo que, ao perto, tudo nos parece maior, mas o único tamanho que realmente pode importar é o do nosso coração. Temos que perceber se nos bate no peito o coração de um cordeirinho bebé ou o de um corajoso leão. Temos que estar conscientes que o tamanho mais determinante para as nossas conquistas é o da vontade de nos superarmos; o mais importante é o tamanho do esforço por darmos o nosso melhor para ultrapassar certos receios, por forma a atingir aquilo a que nos propomos... Mesmo que tudo isso, às vezes, continue a acelerar um pouco o nosso grande coração.

Ana Amorim Dias

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