(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

Como se vê para além do

Como se vê para além do visível?

Olhavamos reverentemente para a magnífica paisagem quando eu decidi interromper o silêncio:
- Se ao menos todas as pessoas que vêem soubessem a dimensão dessa benção...
- Hã?
- Pensa bem, Ricardo: cada segundo de vida em que podes olhar e ver tudo à tua volta... Bolas! Que colossal riqueza!! Impressionante! E nunca agradecemos essa sorte, já viste?
O silêncio dele foi, como de costume, telepático e de emoções partilhadas. À nossa frente o cair da noite, na ria de Cacela Velha, oferecia uma gradação de cores sobre o mar capaz de tirar o fôlego ao mais insensível dos seres. Os tons de azul, rosa, anil e lilás conferiam uma atmosfera quase surreal ao encantador cenário.
Deixámos cantar o silêncio naquele momento encantado.

Mais tarde li um comentário de uma leitora à crónica dessa manhã. A Carmen Cunha agradeceu-me as palavras, acrescentando que o mundo precisa de mais pessoas assim, capazes de "olhar para além do que é visível." Concordei. Devíamos todos olhar mais para além do que é visível. Devíamos todos ouvir mais para além do que é audível; cheirar além do que é cheirável, saborear além do sabor e sentir para lá do toque. Acredito nos sentidos desconhecidos, nos instintos, nos reflexos, nas certezas de que o que projetamos e visualizamos para o nosso futuro pode mesmo acontecer. Mas ainda acredito mais que os nossos cinco sentidos básicos ainda estão sub-explorados. Somos demasiado preguiçosos, andamos sempre à pressa e completamente desatentos a tudo o que, com o apuramento mais consciente dos sentidos, podemos absorver.
Ver para além do visível é, de facto, muito simples: basta querer. E é quando nos habituamos a fazê-lo que nos expandimos...em sucessivos e intermináveis momentos do mais puro entendimento.

Ana Amorim Dias

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