(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

horror

Horror

Li, horrorizada, a notícia da paquistanesa, grávida de três meses, que morreu apedrejada pela própria família. O seu crime? Não ter casado com o primo que lhe destinaram e sim com o homem que amava, tendo assim "desonrado" a família que deve estar agora a transbordar com tanta "honra" reposta. Mas porque me horrorizei? Casos como estes existem aos milhares por este mundo fora, justificados por costumes, religiões e até por leis que não penalizam e/ou sistemas jurídicos que deixam impunes os monstros.

Ando há imenso tempo para escrever sobre as meninas raptadas há mais de um mês na Nigéria. Mas não podia fazê-lo sem que me estivesse a sair das entranhas. A meu ver a leitura é simples: trata-se de terror imposto pelo pavor, malvadez e ignorância de extremistas que agem em nome "algo maior"... como se existisse "algo maior" capaz de justificar todas as barbáries. Não há! O único "algo maior" que podemos reconhecer é o amor e a humanidade, mas quem atua norteado por isso, normalmente só faz o bem.
O grupo radical islâmico Boko Haram é só uma gota no oceano de fel que os extremismos insanos sempre acarretam. Os extremistas são cobardes, vis, ignorantes. Temem a propagação do conhecimento, do esclarecimento das mentes; temem o amor. E desengane-se quem pense que são apenas crimes de género pois se incidem mais sobre as mulheres, em muitos casos os homens também são vítimas. Mas e a nós, pacatos cidadão do mundo que, brindados com a sorte de viver uma existência de direitos fundamentais garantidos, nos limitamos a horrorizar com estas ocorrências constantes, o que nos cabe fazer? Qual é o nosso papel? Qual é a possibilidade de fazermos mais do que a mera proclamação das nossas incredulidades e indignações? O que podemos fazer com estes nossos sentimentos de impotência? Onde os colocamos? Como os tornamos úteis na ajuda concreta de quem vive os piores flagelos no meio da ausência total de proteção?
Não tenho respostas para as questões que deixei no ar. Não de uma forma concreta, pelo menos. Mas estou segura de que a contínua busca do conhecimento e do amor talvez nos venha a ajudar, enquanto indivíduos singulares, a construir uma espécie mais merecedora da existência. Por agora, vou entregar-me a mais um dia de trabalho, mas levo comigo a consciência de que talvez como eu pensem muitos. Levo também a esperança de que, quem sabe um dia, isso venha a servir de alguma coisa.

Ana Amorim Dias

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