(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

Mãe, tu és sensível ?

- Mãe, tu és sensível?
Íamos sozinhos no carro, eu e o Tomás, e a questão surgiu tão de repente como aqueles condutores que não param no stop.
O primeiro instinto foi responder que não, que sou bruta como um rinoceronte ao ataque, mas não ia enganar o miúdo!
- Sou, filho, sou sensível com'ó raio...
- Ahhh!
- Porque perguntas?
- É que a minha professora de português disse que os escritores são pessoas muito sensíveis. Eu pensei que ela estava a gozar porque tu és um bocado bruta...
O sorriso do costume atingiu-me em cheio. Comecei a explicar-me.
- Posso revelar-me um pouco insensível, sim, mas é uma questão de proteção porque, sabes, filhote, não se pode escrever sem ser absolutamente sensível. Não bem, pelo menos.
- Hum...
- Para ir ao fundo das questões, para criar personagens credíveis e fazer passar emoções, temos que sentir tudo. Caso contrário é como se estivéssemos a servir um prato sem sabor, entendes? Mas só podes dar emoções se as sentires e para tudo se sentir há que ser muito sensível...e muito corajoso também.

Sentir tudo é terrível: coloca-nos numa posição de fragilidade por ficarmos expostos a todas as dores do mundo.
Sentir tudo é maravilhoso: coloca-nos numa posição quase divina por ficarmos expostos a todo o amor do mundo.
Sentir, escrever, emocionar: podemos entrar no interior de qualquer outra pessoa e entender tudo o que por lá se passa. Pode ser tão horrendo quanto soberbo, mas é só assim que, depois, se consegue lá entrar de novo para inspirar e mudar alguma coisa...para melhor.

Ana Amorim Dias

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