(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

Conchita

Conchita

Sábado à noite, um pouco arredada do que se passava no mundo exterior, não me pude inteirar bem sobre o que estava a acontecer no panorama musical europeu. Mas deu para entender que algo se passava.
Ontem à tarde, quando tive uns momentos de sossego, fui investigar.
As barbas da Conchita, mais do que incomodar-me, deixaram a interrogação: porquê? Uma gaja gira não anda por aí com o buço em desalinho, muito menos com uma barba farfalhuda! E se esse cuidado se tem no dia a dia, muito mais em aparições televisivas de uma tal dimensão, certo? Bem, enquanto a música durou e a voz dela soou, a estranheza da figura saiu-me totalmente da linha dianteira das considerações porque a letra e a voz eram tão fortes e a melodia tão boa que nada mais importava.

Antes de equacionar fazer qualquer juízo, fui investigar: tinham que existir bons motivos para tanta desarmonia visual. E existem. Pelo que entendi, a Conchita, que também é Tom, tem sofrido muito na vida devido ao seu duplo género, e esta foi a forma que encontrou para dizer algo muito simples: "Parem lá de ser mauzinhos com quem é diferente, ok?"
Com a enorme visibilidade que atingiu, fiquei apenas a perguntar-me qual a proporção, no meio de tantos milhões que o/a viram, terão entendido a mensagem. Para bom entendedor meia palavra basta, mas quantos serão os bons entendedores? É que, no fundo, é muito fácil perceber que uma das mais basilares leis para a criação da humanidade perfeita é a aceitação da diferença. Como podem tantos não ver isso?
Julgar é fácil, mas normalmente injusto.
Criticar é fácil, mas normalmente destrutivo.
Ser preconceituoso é fácil, mas é bárbaro também.
Podemos coexistir sem nada disto... E que salto evolutivo isso não implicaria!

Poderia desejar sorte ao Tom/Conchita, contudo não é preciso. Pessoas assim, com enormes dons e ainda maiores forças, constroem o seu destino e, pelo caminho, com sorte ou sem ela, acabam por mostrar ao mundo o que ele precisa aprender.

Ana Amorim Dias

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