(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

De cerejas e melancias

De cerejas e melancias

- Parabéns filhote!!
- Obrigada mãe! - sorriu com a tranquilidade de sempre, ainda com os olhos fechados.
Aninhei-me um bocadinho nele enquanto pensava na riqueza dos últimos treze anos. É ligeiramente estranho estar nos braços deste magricela de quase um metro e noventa e sentir que nenhum mal nos pode atingir enquanto estivermos assim, enlaçados um no outro. É ligeiramente estranho perceber que todos o tratarmos instintivamente como um jovem de mais idade devido à sua maturidade e altura, e, ao mesmo tempo, é algo tão natural que quase nem damos por isso.

Já não me lembro nem onde nem a que propósito ele começou a conversa:
- Tu já viste como todas as outras frutas são injustiçadas, mãe?
- Hã?
- Sim, repara: diz-se sempre "a cereja no topo do bolo" mas nunca se diz, por exemplo, "a melancia no topo do bolo". É uma discriminação!
- Foste tu que inventaste essa ou ouviste de alguém, Tomás? - perguntei em gargalhadas.
- Não devo ser o primeiro a pensar isto mas não, não ouvi de ninguém.
- Posso usar numa crónica, baby?
- Claro. Está descansada que eu não vou tentar extorquir-te direitos de autor como o João está sempre a fazer...

Sei que sou uma progenitora algo atípica, mas posso afirmar sem rodeios que nasci para ser mãe. Ser provedora de alimento em todas as suas formas; é algo que me corre nas veias com uma força superior a qualquer outro traço de caráter. Ser mãe é fabuloso, mas sê-lo de pessoas assim, grandes de muitas maneiras, toca planos quase divinos.
Fartei-me de rir com a teoria da melancia, como me rio constantemente de todas as pérolas que os dois seres que gerei constantemente produzem. E acabei por me lembrar de algo: no terceiro trimestre da gravidez do Tomás, eu (que nunca admiti a veracidade daqueles stresses gastronómicos das grávidas) transformei-me numa devoradora compulsiva de... melancias. Comprava-as caríssimas, importadas não sei de onde, e comia-as no carro, mal saía do supermercado, porque nem conseguia esperar pela chegada a casa. A "pancada" era tão forte que andava sempre com uma faca no porta-luvas para proceder à operação. É por isso que não resisto a dizer o que me vai sair em seguida:

Parabéns filho. És mesmo muito mais do que a cereja no topo do bolo da minha vida! Por todos os motivos possíveis, és a melancia no topo do meu bolo!!

Ana Amorim Dias

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