(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

E uma vespa? Não queres

- E uma vespa? Não queres uma vespa?
Olho-o de lado e nem respondo à provocação.
Outras vezes são os amigos a dar palpites: "Oh páhh, com uma chopper não vais a lado nenhum"; "Afinal queres andar à séria ou queres passear a viatura?"; "Ao fim de cem quilómetros vais estar toda partida"; "E o vento? Sabes o que é levar com o vento, nisso?"

Apesar de andar a ter uma média de três aulas de mota por mês, e de só vir a ter exame lá para o meio do Verão, não quer dizer que não me ande a "preocupar" com a mota que vou ter. Talvez não venha a possuir, para já, a marca e o modelo que quero, contudo começar logo no topo tira a piadinha toda a tudo. Quero, no entanto, deixar uma palavrinhas a todos os adoráveis seres que, com a melhor das intenções, perdem tempo a opinar sem me entender as razões.

Não são as viaturas que nos fazem, embora digam bastante sobre nós. Não que necessitemos de andar por aí a fazer pregão de quem somos através do ronronar de motores, nada disso. Não obstante, é inegável que o veículo que conduzimos, e a forma como o fazemos, são dois dos mais acabados paradigmas das nossas filosofias de vida.
Entendo quem faz grandes viagens a grandes velocidades. Entendo a adrenalina, o encanto e o conforto das motas feitas para isso. Mas o meu ritmo é diferente. Gosto de grandes viagens e de pequenas também. Gosto de as fazer com muitas rodas, poucas rodas, com asas ou deslizando no mar. Gosto de vias secundárias, de estradas com curvas, onde nos fundimos no horizonte dos nossos renovados encantos. Gosto de parar, de me deter, de observar, sentir e digerir tudo o que estou a respirar. Gosto das vilas e lugarejos, dos cafés e miradouros. Gosto de me deter sem horários a falar com novos grandes amigos. Gosto de possuir o tempo que me dá tempo de aproveitar o meu tempo neste maravilhoso mundo. Esta sou eu e é por tudo isto me encanta, acima de tudo, andar devagar, num exercício de estilo tão cinematográfico quanto o grafismo que imprimo aos meus contos.
Mas calma: não digo que não venha a ter outro tipo de motas nem que não venha, pontualmente, a dar mais abertura ao punho. O que digo, porque o sei, é que sou ávida de vida... mas numa lentidão que me deixe, de facto, saborear-lhe intensamente cada minuto.

Ana Amorim Dias

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