(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

Ritmos


Ritmos

- A menina sabe, por acaso, dizer-me a que horas é o corte do bolo? - o senhor, de alguma idade e pesado porte, era dono de um trato tão gentil como o olhar.
- Estou precisamente à procura da noiva para lhe comunicar que está tudo preparado na piscina e que podem vir.
- É que já é tão tarde... mas eu não me quero ir embora antes porque sou muito amigo dos pais.
- Lamento imenso, caro senhor... Transcende-me.
- Dou-lhe os parabéns porque estava tudo muito bom, mas comemos demais à chegada e viemos jantar demasiado cedo, e agora esta espera pelo bolo... É uma questão de ritmos, percebe? Não foram muito normais.
Acenei-lhe afirmativamente e parti de novo, em modo torpedo. "Mas que raio de culpa tenho eu dos ritmos que os noivos imprimem às festas?? Cada um segue o protocolo à velocidade que quer, não?"

Marquei o despertador para as dez porque tenho que rumar para norte. Ainda assim o meu estranho ritmo fez-me despertar duas hora antes do que seria preciso. "Três horas e meia de sono para vinte de trabalho, não é um ritmo aceitável, Ana! Dorme mais um pouco!", refilei comigo. Mas sem qualquer resultado o fiz pois, e embora me transcendam os porquês, consigo ser mais teimosa que eu e encontrar normalidade em ritmos que de normais nada têm. Pelos vistos os ritmos são como as opiniões: cada um tem os seus e de nada serve tentar impô-los aos outros, ou perde-se, em parte, a razão.

Ana Amorim Dias

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