(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

Quebrando regras

Quebrando regras

O carro que circulava à minha frente ia a uns vinte à hora. Verifiquei que o tracejado pintado no asfalto permitia a ultrapassagem, mas não a realizei. Quem pintou aquilo (ou mandou pintar) deve tê-lo feito depois de almoço pois, com a curva logo a seguir, devia ser zona de traço contínuo.
Um pouco mais à frente fartei-me de rir: numa reta com boa visibilidade e sem quaisquer interseções, a linha era contínua!
Bem, e o tal carro continuava à minha frente a vinte à hora...

O semáforo estava vermelho para os peões. Na larga e comprida avenida não se viam carros nem de um lado nem de outro.
- Vamos, babys!- Agarrei nas mãos dos meus filhos e avancei.
De cada lado da passadeira estavam umas dez a quinze pessoas que começaram também a atravessar.
- Viste, amor?- perguntei ao Tomás.
- O quê, mãe?
- A diferença entre lobos e ovelhas...
Ele entendeu. Mas eu quis explicar melhor a alegoria.
- Há líderes e seguidores, como acabei de te mostrar. Mas para se ser um bom líder há que cuidar que nunca se coloque em risco quem estiver disposto a seguir-nos.
Expliquei-lhe também que as regras são o que mantém a ordem da sociedade e que elas servem para ser seguidas. Contudo devemos reservar-nos sempre o direito de as pensar, questionar e, por vezes, quebrar. Sob risco de, não o fazendo, nos arriscarmos a ser meras mulas, de olhos vendados, a deslocar-se pela vida sem qualquer autonomia.

Mais tarde pensei melhor na forma como lhes dei esta lição. Agi bem? Ou estarei a potenciar dois futuros fora-da-lei? Tranquilizei-me depressa: sei que é bem mais perigoso ser-se cordeiro que lobo.

Ana Amorim Dias

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