(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.6.14

O tempo não é coisa rara

O tempo não é coisa rara

No meio do espetáculo dos golfinhos, uma das últimas músicas da Mariza soou no recinto.
"O tempo é coisa rara..."
O João apercebeu-se do meu ar pensativo e refutou a ideia.
- Não é não, mãe! O tempo está sempre a acontecer!

Estou a descobrir que, além das férias em família, todos os progenitores deviam tirar alguns dias em exclusividade com cada um dos seus filhos. As descobertas são de uma riqueza ímpar. A doçura com que os laços se fortalecem, numa cumplicidade inabalável, confere a ambos um sentimento de entendimento difícil de conquistar de outras maneiras. Quando estamos alguns dias presentes, de corpo e alma só para um deles, o tempo presenteia-nos com essa coisa rara chamada harmonia perfeita. Descobrimos-nos. Encantamo-nos. Amamo-nos melhor. Mas há que ter tempo. Tempo só para eles.

Mostrei como se anda de metro numa capital. Expliquei-lhe as linhas, a compra dos bilhetes e coisas que me aconteceram em cada local, quando por cá morava.
- Mãe, mas se mudarmos no Marquês de Pombal e depois no Campo Grande, poupamos sete estações para chegar a Telheiras!
Até me engasguei. Não é que o miúdo tinha razão? Se mudássemos só no Chiado era muito mais demorado...
- És um puto do campo que percebe bem as cidades, João!
E ele abraçou-me e beijou-me. Outra vez. Acho que nunca nos tínhamos mimado tanto.

E o mais lindo de tudo? É que ao Tomás e ao Ricardo, no seu périplo até Santiago de Compostela, deve estar a acontecer precisamente o mesmo. Fico a pensar que as escolhas atípicas do uso do tempo nos podem dar ensinamentos soberbos. O tempo não é coisa rara. Está sempre a acontecer. Raro é saber fazer com que alguns bocadinhos de tempo sejam tão mágicos que se tornem capazes de durar para sempre.

Ana Amorim Dias

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