(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.5.14

O homem dos alguidares

O homem dos alguidares

Confesso que não faço a mínima ideia do que vos vou dizer, mas tenho que contar a história do homem dos alguidares...
Aconteceu no dia 25 de Abril, numa feira/mercado que ocorre (segundo me disseram) há bem mais de 40 anos, numa terrinha do sotavento interior chamada Pereiro.
Caminhava eu ainda meio ensonada, a par com as minhas "tropas", quando ouvi o tal pregão:
- Podem vir, podem vir! Que a loucura das mulheres é o homem dos alguidares!!
Os miúdos olharam logo para mim, só para ver a minha cara. E eu, já não sei precisar porquê, acabei por não ver o tal homem dos alguidares. Mas talvez seja melhor assim. Fiquei a imaginar que o próprio Brad Pitt tinha aterrado de pára-quedas, nos confins da Europa, liderando as operações de venda na carripana dos alguidares. Ou talvez fosse o George Clooney, todo cheio de charme, a despachar escorredores de loiça e imitações da tupperware, com a mesma pinta que usa nos anúncios da Nespresso. Eu sei lá o que perdi por não ter voltado para trás! Contudo foi melhor assim, pois tudo me leva a crer que o homem dos alguidares seria um barrigudo desdentado, sensualmente vestido com umas calças de fazenda e uma camisa aos quadrados aberta até ao umbigo que deixava bem à vista o imponente fio de ouro.
Fiquei, no entanto, com um dilema entre mãos: qual é, em boa verdade, a loucura das mulheres? Nunca, nem sequer por um segundo, imaginei que fossem pilhas e pilhas de coloridos alguidares, nem tampouco o encantador ser que os vende com um microfone na mão. Pensava que a loucura das mulheres eram homens de negócios bem sucedidos ou artistas geniais que lhes pudessem proporcionar requinte e vivências saídas dos cenários de filmes românticos. Ficou-me a conclusão de que os pregões podem ser perigosos por abalarem as nossas mais profundas crenças. É que a veemência daquele vendedor, que se via a ele mesmo como a personificação de um "sex symbol", veio levantar-me dúvidas que, creio, serão para sempre insanáveis.

Ana Amorim Dias

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