(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.7.14

Vai lá fazer o que achas que não consegues!

Vai lá fazer o que achas que não consegues!

Era quase dia do pai. A professora Alexandrino deu a cada um de nós uma caixa de fósforos com um espelho colado, e tintas para fazermos pinturas no mesmo. Tenho gravada na memória a imagem do vaidoso patinho amarelo, sobre um lago azul, iluminado por um sol radioso com uma nuvem branquinha à direita.
- Gostas? O meu está bonito?
Saiu-me um esgar porque não soube mentir. A pintura do meu colega era um borrão indecifrável. E foi nesse momento, devia ter eu uns sete anos, que pela primeira vez me vi confrontada com as diferenças de capacidades. Fiquei num misto de indignação e intriga: como é que ele podia pensar em oferecer aquilo ao pai e, ainda por cima, ter aquele sorriso no rosto? Porque é que a caixa de fósforos dele não estava perfeitinha como a minha? Na altura não me ocorreu que talvez ele não tivesse na sua casa, como eu tinha, paredes forradas de livros com gravuras das obras dos grandes mestres da pintura e da escultura. Não me ocorreu que talvez a arte não corresse nas veias de todos os corpos. Mas como podia eu sabê-lo? Era só uma miúda com vontade de criar.

Ao longo dos anos todos presenciamos incontáveis situações em que alguém proclama os famigerados "não sei" ou "não consigo". Muitas vezes somos nós próprios a fazê-lo. E porquê? Porque estas duas "fórmulas" nos desresponsabilizam muito mais do que aquelas outras que realmente nos travam a ação: o "não quero" ou o "dá muito trabalho".
A verdade é simples: todos trazemos, integradas de origem, as capacidades necessárias para fazer o que quer que seja. É inegável que há aptidões naturais específicas diferenciadas em cada indivíduo, sendo certo que se pode ter muito jeito para umas coisas e ser tremendamente trôpego em outras. Mas daí ao "não sou capaz" vai uma grande distância.
Ninguém nos pede que construamos sozinhos um foguetão para ir ao espaço ou que pintemos um quadro como se fossemos Picasso. O que devemos pedir, aos outros e a nós mesmos, é a capacidade de perceber que tudo se consegue...fazendo.

Ana Amorim Dias



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