(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.7.14

O poder que levas dentro

O poder que levas dentro

- Mandei-te o artigo que escrevi para a Freeway magazine, sobre a viagem que fiz com os Fuck You Run.
- Espera, vou já ver!

Abri o mail e li tudo com a maior quantidade de avidez permitida em línguas que não a nossa. Da última vez que estivemos em Lisboa, em entrevistas, ele estava quase de partida para cinco dias em mota (saindo de Lyon e com roteiro desconhecido) na companhia de mais trinta e tal motards. Nas quatro páginas do artigo, vi e senti tanto quando pode ver e sentir quem não foi. Arrepiei-me e sorri ao deixar-me emocionar pela vibração que ele soube pôr nas palavras. E depois dei-lhe a minha opinião:
- Acabei agora de ler. Está muito, muito, bom. Estou orgulhosa de ti! És um "baroudeur" vibrante de arte literária, tenho que admitir... Sente-se mesmo a emoção!
- Ah ah ah! Ando a aprender contigo!
- E digo-te algo mais que nunca deverás esquecer: de cada vez que escreveres, que seja com toda a intensidade, como se pudesses voar. Fá-lo a sentir todo o poder que levas dentro. Tens que escrever sempre como se pudesses morrer feliz nesse momento, como se o peito te fosse explodir de emoção. Caso contrário não vai valer nada.

Momentos antes, ao ler algumas passagens de "Paris é uma festa", de Hemingway, acabara de povoar-me disso mesmo, daquilo que busco em todas as artes: a felicidade tranquila da aprendizagem a trespassar-me o corpo todo; o magma fervilhante da emoção a subir, subir, e a instalar-se na garganta; a vertigem de lágrimas perfeitas. Só a verdadeira literatura me provoca isto. Só os quadros perfeitos, as esculturas harmoniosas, os prédios geniais, as músicas da minha vida, têm essa capacidade de me desarrumar inteira, de me fazer viajar por dentro, tornando-me tão mais feliz e completa.

Talvez os escritores sintam demais por só assim o poderem ser. Talvez por isso eu cada vez mais abandone as leituras que não têm o ingrediente fulcral da intensidade, assemelhando-se a receitas áridas de sentidos mais profundos.

A curta conversa com o Eric também me invadiu de emoção. Como tantos outros, creio, temos o que é preciso para deixar marcas artísticas capazes de emocionar os outros. Gostava que fosse ao ponto de demonstrar a quem nos lê todo o poder que também vocês levam dentro.

Ana Amorim Dias

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