(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.7.14

Fugi

Fugi

Cheirava a sardinhas quando fugi de casa. Bem sei: nem se foge de casa aos quarenta nem eu sou pessoa para fugir do que quer que seja. Mas são catorze cadeiras à mesa. Catorze pessoas em casa e nem um minuto para mim. O Ernest e o Fiódor já fugiram, escaparam-se à minha frente com uma tal velocidade que não lhes encontro os livros. Talvez não queiram ser lidos assim, com pouca atenção e baixa energia. Eles lá sabem. Como de costume aparecerão dentro de dias, ou de horas, quem sabe, quando tudo estiver mais calmo.
Não fugi para longe, apenas para o sítio mais silencioso e próximo de que me lembrei de repente. Se calhar nem fugi, vim apenas ver-me, sentir-me, cheirar-me. Vim apenas mergulhar em mim e recompor-me.

- Nós amamos-te!
O Ricardo reparou na iminente evasão e disse-me as breves palavras antes de eu arrancar com o carro.
Acho que vou regressar. Gosto de sardinhas e de estar perto de quem me ama.

Ana Amorim Dias

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