Guadalquivir
O tempo estava cinzento e frio. Vim-me embora. Os pingos da chuva, primeiro envergonhados, tornaram-se grandes, ofensivos até. Durante muitos quilómetros rumei para Oeste com uma pluviosidade convicta que me lavou bem o carro.
"Caramba, Sevilha, também não é preciso chorares assim: eu estou sempre a voltar." Depois lembrei-me que o Verão começa hoje e pensei na "guerra" que esta época sempre me traz. Enchi bem os pulmões e mentalizei-me, como um atleta na linha da partida, ou um guerreiro prestes a entrar na batalha.
- Me sacas una foto aqui?
- Por supuesto.
Assim que entrei na lancha, ontem ao fim da tarde, quis conduzi-la um bocado. Pablo, o marinheiro, não tardou mesmo nada a perceber a minha vontade.
- Te la dejo, un rato?
- Siiii!
E lá fui eu, Guadalquivir acima, a tomar o gosto ao rio, sentindo a sensibilidade extrema do "timón". Comecei a cantar baixinho uma música dos Revólver: "Cuando el mar se muestra en calma, todos somos capitanes, pero cuando se agiganta, nadie se agarra al timón..."
A chuva acabou por parar e cheguei à minha terra de Sol. Trouxe novas memórias e a habitual certeza de que quero mais e mais. Não sei por quantos rios navegarei ainda, mas sei que sempre que o meu mar se agigante, eu lá estarei, extasiada de emoção, bem agarrada ao leme!
Ana Amorim Dias
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