Leva-me ao céu outra vez
Dei umas goladas na garrafa de iogurte líquido e fechei o frigorífico. O silêncio adormecido de todos embalou-me a saída. Os olhos pousaram no CD, sobre a mesa. Dos Expensive Soul. Nunca o tinha visto. "Ora tu vens comigo", decidi.
Estrada. Poucos quilómetros a fazer, mas tinha estrada. À frente e atrás. E o carro só para mim. Eu comigo. E estrada. Janelas abertas, com o fresco a entrar. A manhã toda minha. E estrada para andar.
"Somos metade pés e metade asas; uma parte no chão e uma parte no ar", pensei. Uma felicidade suprema apoderou-se de mim enquanto guiava. E ele cantava: "leva-me ao céu outra vez..." A explosão deu-se então. Deve ser isto o nirvana. Fora do tempo e do espaço. Fora de tudo e dentro de nada. Existir só, só na estrada, só em cem quilómetros de caminho que se gastam num instante. Só sem estar só porque só nunca está quem se nutre a si mesmo.
Regressei do limbo completamente carregada, cheia, feliz. Acho que me levei ao céu outra vez.
Ana Amorim Dias
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