(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.7.14

Samuel e a repórter de

Samuel e a repórter de Madrid

Não me lembro como começou a conversa. Encetei-a com tanta gente, e de tantas formas diferentes, que me é impossível reproduzir-lhe o início. Mas o Samuel entrou-me diretamente no coração, num daqueles momentos em que sentimos toda a intensidade com que a conexão se está a estabelecer. Mais do que a empatia, senti a química das almas. Senti-a a cada nova frase. Dele e minha. E a cada brilhar de olhos, como sempre acontece a quem sabe que o interlocutor está a entender mais do que tudo. A troca de ideias girou, tão veloz como a emoção, em torno de literatura e filosofias de vida. O Samuel também escreve. Não fiquei admirada. Ficarei apenas à espera que me mande escritos que nunca mostrou a ninguém.

Podemos ser completamente facciosos nos balanços que fazemos daquilo que nos acontece. Tudo depende do nosso humor, do nosso caráter e, claramente, da ordem existente na nossa escala de valores. Poderia concluir que a minha participação na Concentração de Faro, durante estes três dias de Julho do ano de 2014, foi um redundante fracasso. Colossal e avassalador, posso acrescentar, se analisar os fatos à luz de fatores económicos. As pessoas preferem crepes, cervejas e T-shirts a livros. É normal. Contudo sinto tudo de uma maneira diferente: estes três dias deram-me sensações, conhecimentos e inspiração; trouxeram boa gente nova ao meu círculo relacional; e fizeram-me entender o rumo criativo que há algum tempo buscava...

Da mesma forma que não recordo como começou a conversa com o encantador Samuel, também não me lembro do nome da repórter de Madrid. Pequenina, fresca, com o cabelo brilhante e um rosto de boneca que se acendia em franqueza. Conectámos, igualmente, em escassos segundos e falámos longo tempo. Acabei por lhe explicar como serão os meus próximos livros: a estrutura e tema de cada um deles e o fio condutor que os ligará entre si. Fui entendendo finalmente tudo, à medida que lhe falava, como se a atenção que me estava a dar fosse a chave do cofre das minhas boas ideias.

Os balanços que fazemos, das ocorrências da vida, dependem daquilo que somos. Perante resultados iguais, podemos dizer que "foi muito positivo" ou "foi muito negativo", consoante privilegiemos os valores materiais ou os imateriais. A verdade é que no fim, para fazer bem qualquer balanço, tudo recai na maneira como focamos a nossa visão interior.

Ana Amorim Dias

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