Despertador para o humor
Ligou-me muito antes da hora habitual. Atendi enquanto punha a massa a cozer.
- Estou, filha?
- Hi mami!!
- Então? Estás bem?
Percebi logo a preocupação: quase sete da tarde e a crónica por sair.
- Tirando o mau humor que não me largou todo o dia e a vontade de fugir de casa durante um ou dois dias...
A minha mãe sabe o quanto gosto de ter a casa cheia e o quanto adoro todos os que cá estão de férias, mas também conhece bem a minha convicta necessidade de solidão.
- Ohhh, coitadinha. Tenta descansar um bocado. Mas hoje não escreveste, pois não?
- Para quê? Só iam sair palavrões embrulhados em má energia.
- Pois, assim é melhor estares quieta.
Deu-me mais um bocado de mimo e desligou.
Esta manhã já tinha escrito, mas a qualidade era tão baixa e a energia tão fraca que me remeti ao silêncio, esperando a inspiração feliz que sempre me explode no peito aquando da criação. Nada. Durante todo o dia nada me chegou.
Cortei a cebola para o refogado da carne. Liguei a aparelhagem. Uma versão chillout do "One more time" começou a desanuviar o ambiente. Enchi de Lambrusco um copo. Abri as janelas em par. E depois, enquanto fazia o jantar, a felicidade chegou. Tão absoluta e intensa como sempre, em forma de inspiração.
Costumo dizer que o bom humor é uma opção consciente. Que mesmo que despertemos mal dispostos todos os dias, devíamos programar o despertador para tocar de novo, meia hora mais tarde, recordando-nos do imperativo exercício de nos sintonizarmos com a boa energia. Era este o tema que abordara esta manhã...
O jantar fez-se, saboroso e feliz. Só tive pena de ter perdido um dia quase inteiro por me ter esquecido de ouvir o toque do meu habitualmente fiável despertador para o humor.
Ana Amorim Dias
21-07-2014
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