(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.7.14

No jardim

No jardim

- Aqui tiene, señora.
- Gracias.
Provei. Os meus mojitos são melhores. Indiscutivelmente melhores. Mas nada iria estragar o meu jantar no terraço daquele restaurante com vista para a Giralda.
Só depois de ter mandado vir a comida é que me apercebi que estavam a passar o jogo do Uruguai e da Inglaterra. "Bolas! Não vou ter música!...ou se calhar até vou!" Coloquei os fones, liguei o telefone e escolhi o iria ouvir.

- Sevilha? Mas que vais para lá fazer? Sevilha já tu conheces. Porque não escolhes um destino desconhecido?
- Apetece-me.- e foi tudo.

Vejo Lisboa e Sevilha como pedaços do meu jardim. Aqueles locais onde volto e volto e volto, sempre que me apetece ir apanhar ar. São lindos pedacinhos de terra que, por estarem tão à mão, me deixam com a sensação de estar a chegar ao jardim.

"I will talk and Hollywood will listen...", cantava o Robin. "Eu também "falo" e até há quem me oiça...", pensei. Olhei à volta e senti-me gloriosamente só. Continuo a ver as pequenas expedições solitárias com o olhar encantado de quem cria arte numa folha em branco. É na exclusiva companhia de nós mesmos que conseguimos entender que os únicos responsáveis pelos nossos humores somos nós. É no retiro sublime destes momentos em branco que as maiores epifanias se dão; que as prioridades se entendem; que as memórias e esperanças cavalgam livres das interrupções constantes. É connosco que travamos as únicas batalhas que precisam mesmo de ser vencidas e nos entregamos, por fim, à mais acabada harmonia.
Precisamos dos outros, claro. Mas antes de tudo o resto, precisamos de nós.

Ana Amorim Dias

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