(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.7.14

A professora de francês

A professora de francês

- Eu podia ficar cá contigo e ia daqui a uns dias, de avião...
- Acho que o teu pai ia ficar triste, Philippine. Mas eu adorava!

Perguntei-lhe, assim que chegou, se podia ser minha professora de francês por uns dias. Riu-se e aceitou de bom grado. Tal como imaginei, o meu francês evoluiu bastante e passei a tagarelar constantemente com ela, explicando minimamente bem tudo aquilo que não sabia conseguir expressar nessa língua. O que eu não podia prever (ou talvez pudesse) era o tamanho do vazio que a sua franzina presença deixou ao partir. Habituei-me a ouvi-la cantar pela casa e a pregar partidas constantes aos meus filhos e ao gato. Habituei-me à voz de menina e aos beijos ternos que a toda a hora me dava; ao "obligada" que dizia no gozo; à ajuda que me dava no bar, a fazer caipirinhas. Habituei-me à encantadora loucura natural e à carita de mimo que, por tudo e por nada, fazia.

Disse-me, há pouco, que estava triste por partir. Não era preciso tê-lo feito: a sua linguagem corporal não a deixava mentir. Prometi-lhe ir em breve a Paris, raptá-la por dia, para me mostrar os seu locais preferidos. Prometi-lhe que estaria aqui para ela quando lhe apetecesse apanhar o avião e vir ver-me. E depois ela foi-se, com a lagrimita no olho.


Olhei para todos os pequenos corações, sobre a mesa, com a palavra "love" inscrita. E fiquei a pensar na quantidade de amores que cabem nos nossos corações; na quantidade de seres que vão chegando e se vão instalando cá dentro. Dói um pouco quando partem mas essa dor, mais que dor, é um dom. O dom de saber fazer com que todos os amores caibam cá dentro.

Ana Amorim Dias

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