(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.7.14

Uma noite com eles

Uma noite com eles

Ficamos a pensar que não lhes damos toda a atenção que merecem. Estão mesmo ao nosso lado mas temos saudades porque andamos demasiado ocupados a fazer mil coisas importantes, esquecendo que a mais essencial de todas é criar-lhes memórias felizes e (porque não?) eternas.

Ontem não trabalhei. Cheguei à Quinta às nove da noite e perguntei aos cinco o que queriam fazer. Eu estava ali inteiramente para eles. Perante a anarquia que brotava das diferentes vontades, usei a voz de ditadora, que tão facilmente me sai, e mandei-os calçar sapatos: dentro de cinco minutos partiríamos numa expedição noturna pelos campos.

- Au, piquei-me!
- Cuidado pá, largaste-me esse ramo mesmo na cara!
- Meninos, desliguem os telemóveis todos: caminharemos na escuridão para os nossos olhos se adaptarem!
Hesitaram mas acederam.
Parámos junto a um lago, mais ou menos distante, e ficámos a contar histórias baixinho, a ouvir o coaxar dos sapos e a observar estrelas, aviões e satélites.
- HUÁÁÁHHHH!!!
De vez em quando, um de nós escondia-se atrás de alguma moita e saltava, com um grito lancinante e a luz do telefone a iluminar o rosto, de baixo para cima. Ninguém se assustava porque todos queríamos ser os assustadores.
Regressámos a cantar o "Happy", entre tropeções e piadas tontas. Regressámos felizes. Cheios. Sintonizados uns com os outros.

Não sei se a tal memória feliz e eterna se agarrou às suas almas de criança. Sei que, com um simples passeio noturno, a minha ficou bem mais rica.

Ana Amorim Dias
(22-07-2014)

Sem comentários:

Enviar um comentário