(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.5.14

A caneca de Londres

A caneca de Londres

Já cheguei tarde ao alpendre. As vozes falam alto e fazem planos, mas desconfio que apesar de todo o entusiasmo ainda ninguém tomou o pequeno-almoço.
Preparo a meia de leite escura na caneca de Londres, aquela que há um ano adotei como minha. Primeiro a crónica. O resto resolve-se mais tarde.

Um ano depois estou de regresso à Provença. O Eric esperava-me no aeroporto com um semblante ao mesmo tempo alegre e triste. Desta vez a entrevista não consiste em horas e horas de gravações nem em recolher material para a biografia. O plano foi reunir uma equipa para fazer um documentário que servirá de teaser a uma produção no grande ecrã.

Por mais gente que cá esteja, a casa está vazia sem o Richard. Sem o cheiro dos cozinhados dele e sem a sua voz de patriarca absoluto a tentar proibir-me de levantar a mesa, sente-se um vazio quase palpável.

- Li uma frase gira esta manhã.- disse-me ontem o Eric.
- Qual foi?
- Os amigos são aquelas pessoas que conhecemos mesmo bem e, ainda assim, continuamos a amar.

Olho para a caneca de Londres, enquanto vou escrevendo esta crónica. Está velha, encardida e rachada, mas é a minha caneca e gosto dela assim. Com os amigos e com todas as pessoas que amamos, a equação é a mesma: por mais que lhes conheçamos os defeitos, mantermo-nos ao seu lado, nas boas e más horas, é mais que um imperativo, é a única forma de revelarmos a nós mesmos o que realmente importa na vida.

Ana Amorim Dias

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