(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.5.14

A cabeça de Buda

A cabeça de Buda

- Foste tu, João?
- Não, mami.
- Tomás?
- Não olhes para mim!
- Gato? Tens alguma coisa a dizer?
Olhou-me de lado e nem sequer miou.
Acreditei nos três. Como não pertenço àquela estirpe de mães que se "passam" com este com este tipo de coisas, eles não têm motivos para não admitir eventuais culpas. Além do mais, assim que esta manhã fiquei com a cabeça do Buda na mão, soube logo quem tinha sido.

A tática de "o próximo a tocar é que partiu" é uma verdadeira delícia. É a relíquia das inocentes traquinices infantis. Lembro-me aliás de uma pequena Vénus de Milo que havia em casa dos meus pais que, além de já não ter os braços, ficou meses também sem cabeça sem que ninguém desse por isso. Esta é uma das inócuas e clássicas patifarias que duvido que alguém nunca tenha feito.
O certo é que fiquei com a cabeça do Buda na mão e, em vez de me irritar, aproveitei a espiritualidade do momento matinal e, logo depois de pensar que tenho de comprar cola, senti-me uma privilegiada. Isto de ter na mão a cabeça de Buda pode muito bem ser uma linda alegoria aos belos ensinamentos que todos os dias nos caem nas mãos.

Ana Amorim Dias

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