(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.5.14

Um postal provinciano

Ensinamentos da província

Está sempre a acontecer-me. Vou muito bem a guiar e tenho um carro parado à frente, a impedir a passagem. A razão? Bem, o condutor pára para falar com alguém e quem vier a trás que espere que a conversa termine. A questão é: que atitude tomar? Esperar pacientemente que ponham a "escrita em dia" ou dar o leve toque de buzina para que se apercebam que estão a estorvar a navegação? Sim, a escolha é complicada. Porque se esperamos pacientemente, corremos o risco de, ao fim do segundo interminável minuto, nos começar a ferver o sangue. E se optamos pela apitadela (sempre suave e com um sorriso, não se iludam) corremos o sério risco de receber um olhar carregado de indignação.

Sou uma provinciana fabricada pelos anos aqui passados; forjada por muitas experiências que testam a paciência de todas as formas possíveis. Uma provinciana que precisa de fugir constantemente para as grandes capitais do mundo onde, caso alguém parasse para falar com alguém e impedisse o trânsito por mais de dez segundos, seria crucificado. Mas é quando estou lá nas urbes que entendo a alegria que se encerra na espera do final das conversas de quem nos atrapalha. Aqui, na província, o tempo tem outro ritmo, e as pessoas têm coisas importantes para dizer umas às outras.
Ontem, enquanto esperava que o condutor da frente terminasse a sua conversa, recordei-me de uma quadra, do António Aleixo, que sempre me encantou:
"A vida na grande terra
Corrompe a humanidade
Entre a cidade e a serra
Prefiro a serra à cidade"

Não prefiro a província nem prefiro as cidades. Preciso de ambas para me manter calibrada. Mas sei que, muitas vezes, é onde nada esperamos aprender que os grandes ensinamentos nos chegam. Afinal o que é um minuto da minha vida a comparar com um encontro importante para o condutor que circula à minha frente?

Ana Amorim Dias

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