(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.5.14

Vencedores

Vencedores

- Vá lá, mãe!!
- Já te disse que não me apetece.
- Mas tu prometeste.
"Bolas, que chato!"
- Como é que é mãe? Vens tentar ganhar-me ou estás com medo?
A minha essência de puto reguila falou mais alto! Peguei numa moeda, dirigi-me à mesa de matraquilhos e, com um sorriso demolidor, agarrei-me aos "comandos" dos centrais e dos avançados.
Um, dois, três, quatro golos. E o Tomás cada vez mais irritado.
- Oh mãe...que nervos.
- Não me tivesses provocado.
Ocorreu-me que talvez não estivesse a agir bem. "É só um miúdo, Ana, e é teu filho! Que tal se o deixasses marcar uns golos?". O instinto não permitiu. Continuei a marcar, um atrás do outro, sem qualquer misericórdia. "Se ele tem que aprender sobre o sabor da derrota, que seja com a sua mãe."
- Hiiii, que sorte!! Tens uma sorte!- reclamou, irritado, sem razão nenhuma.
Continuei em modo de tanque de guerra, a cilindrá-lo em silêncio. E ele quis a desforra, mas o resultado foi o mesmo: vitória absoluta da mamã provocada.
Hesitei nos sentimentos. Devia ter ficado a sentir-me mal por ter arrasado a confiança de um teenager que até joga bastante bem? Ou era legítimo ter a sensação de lhe ter ensinado que nunca se deve gozar o adversário?
- Anda tirar uma fotografia junto aos matrecos, Tomás!
- Para me humilhares na crónica de amanhã? Nem sonhes!
Decidi suborná-lo, ao mesmo tempo que prometia ser suave nas palavras. Regateámos o "preço" da selfie e o negócio ficou fechado.
Não me tinha apercebido era que o pequenino estava a ver tudo com atenção.
- Mãe? Deves-me cinquenta euros por cada crónica que escreveres sobre mim!
- Desculpa, João??
- Sim, e por todas as que já escreveste, também!
- Bolas! Tenho que vender o meu carro!- respondi entre gargalhadas.
Mais tarde adormeci a rir. E a agradecer à vida estes filhos espevitados. Ficámos todos a ganhar. O Tomás aprendeu que não se deve gozar com o adversário, mesmo que o adversário seja a sua própria mãe. O João entendeu que não vale a pena tentar extorquir o próximo. E eu? Bem, eu entendi que estou a criar dois miúdos com uma auto-confiança capaz de os tornar vencedores.

Ana Amorim Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário