(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.5.14

As horas de despertar

As horas do despertar

Abri os olhos. A luz que banhava o quarto não me soube dizer as horas, só me revelou um sol radioso. "Mas hoje não ia chover? Bem, é melhor assim, sempre dá para jogar ténis."
Perguntei as horas ao telefone. Valorizo muito a localização temporal do despertar. Oito e cinco. "Será a hora nova? Pela velha seriam sete?"
O som aparvalhado de vários pássaros diferentes trouxe-me uma irritação divertida. "Shhhiuu, cantem mais baixo!"
Virei-me. "Como é que Ana? Vais ficar aqui e adormecer de novo ou aproveitar o dia de raiz?"
Não consigo ficar na cama a menos que haja ocupação. "Que chatice, seres assim, pá. Dormes que nem uma rocha e pronto? That's it?"
Lembrei-me que mudei a direção do meu sono, de há uns dois meses para cá. Usei a bússola e verifiquei: "No outro quarto dormias com os pés para 135 graus sudeste, agora dormes virada aos 220 graus sudoeste. E o que mudou? Nada. Um quarto maior, mas à mesma cheio de luz. Uma cama maior e à mesma cheia de amor. A direção do sono não muda absolutamente nada."
Saltei da cama, vesti-me e saí. A estrada molhada mostrou-me que a chuva veio mais cedo, durante a noite. E vim todo o caminho até ao café a perguntar-me porque durmo sempre tão bem. "Será que há alguma relação direta com a paz de espírito? E porque raio queres sempre saber a que horas despertas?"
Deixei o carro ronronar tranquilo enquanto me embalava o princípio de mais um dia luminoso de descobertas. Calei o pensamento um bocado. É óbvio que quem dorme assim não precisa de saber as horas do despertar: quando já se está desperto vai-se sempre a tempo de fazer com que cada dia conte e seja aproveitado ao máximo.

Ana Amorim Dias

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