(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

Ubíqua

Ubíqua

Vi-os a deitarem-se nas toalhas e percebi que iria para a esplanada sozinha. Aborrece-me estar no areal estendida, a grelhar o corpo ao sol. Quando o tempo não está demasiado quente aproveito bem a maresia, entretendo-me por ali um bocado a brincar com pensamentos mas, quando o sol se agiganta e me obriga a ir ao mar a cada três minutos e meio, faço de qualquer esplanada a minha mais perfeita praia.
- Ficam aí?
- Eu fico! Quero bronzear-me um bocado.
- Eu também!
- Então espero por vocês na esplanada. Prefiro bronzear-me às riscas.

Sentei-me a saborear a cerveja e recordei a noite de ontem...

- Por aqui está tudo organizado, conseguem sobreviver sem mim uma hora, certo? Se precisarem de alguma coisa, telefona e eu venho de imediato.
Guiei até ao outro negócio. Sete minutos. Sete minutos inteirinhos de silêncio. Sete minutos para estar confortavelmente sentada. Que privilégio!
Entrei no Piratas e sorri perante a confusão ruidosa. Não foi necessário trocar palavras com a tripulação para perceber que viram a minha chegada como a dos heróis dos filmes, que aparecem no último segundo em que ainda é possível salvar o que precisa de ser salvo. Trabalhei como um robot do futuro: a eficiência suprema. Ou como uma feiticiera, daquelas que tocam na ponta do nariz e "plim": magia!
- Tomás, avisa-me dez minutos antes das onze e meia, porque tenho que estar na Quinta precisamente a essa hora.
- Mãe? São onze e vinte. Agora!
Voei. Fiz o que tinha a fazer e, no preciso segundo em que terminei de orientar de novo as tropas para me poder voltar a ausentar, recebi o mayday do capitão.
- Tranquilo. Já estou a arrancar para aí.

Fresca e feliz, levei a imperial à boca e perdi o olhar na imensidão do oceano. "Teria dado jeito, ontem como tantas vezes, ter o dom da ubiquidade, um dos que mais ambiciono desde que tenho entendimento de gente." Depois, enquanto me ia bronzeando às riscas, pensei melhor e percebi: podemos não ter os atributos divinos totalmente desenvolvidos mas, se os quisermos mesmo muito, conseguimos algo bem parecido!

Ana Amorim Dias
(24/8/2014)

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