(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

Nas nossas mãos

Nas nossas mãos

Embora aquele solo de saxofone soasse maravilhosamente, a dor de cabeça obrigou-me a baixar o volume. Aconcheguei melhor os óculos de sol ao topo do nariz. Com a mão direita remexi a mala, procurei um comprimido e engoli-o, esperando que se apressasse.
O carro deslizava em modo de piloto automático. Não fosse aquela dor crescente e tudo seria, naquele momento, perfeito. Comparei o tédio monumental que ontem se instalou durante algum tempo em mim, com o entusiasmo que estava a sentir agora...
Tinha-me esquecido completamente da letra "Perfect Moment" que escrevi para um músico francês meu amigo. Esta manhã informou-me que já está pronta e em CD.
Tinha-me esquecido que há três noites atrás, ao ver o realizador João Botelho a sentar-se numa mesa do Piratas, me dirigi a ele:
- Olá. Sei que os donos de bares normalmente oferecem um copo, mas eu vou oferecer-lhe este livro.- Entreguei-lhe o "Olho Ubíquo", devidamente dedicado, e recebi de volta uma simpatia sólida e tão naturalmente brilhante como a criação do artista.
Tinha-me esquecido do episódio, até relembrar, enquanto guiava, a maneira efusiva como me cumprimentou ontem, quando me viu de novo.
E o que mais me esquecera fora do pedido de amizade feito ao Erik Vauth, criador da mota mais bela que até hoje vi. Aceitou-me o convite esta manhã e poucos momentos depois já eu lhe conquistara uma entrevista exclusiva para as revistas nacionais.

A dor de cabeça começou a amainar, não sei se por efeito do comprimido ou se por causa dos entusiastas pensamentos que me varreram o tédio. Olhei para a minha mão, ao volante, e perguntei-me se as coisas belas que conquistamos serão produtos da sorte ou das nossas próprias mãos. "O que semeamos é trabalho nosso, mas talvez só a sorte dite aquilo que colhemos", pensei.

O saxofone soava de novo quando me chegou o convite para ir ao Daytona October bike week e andar na mota mais linda do mundo. Há frutos que brotam depressa.

Ana Amorim Dias

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