(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

As pastilhas nas bebidas

As pastilhas nas bebidas

- Então?? Voltaste?
- Já estava com saudades... - respondeu ele com o que me pareceu ser o vislumbre de um beicinho.
O Nuno tinha-se despedido há pouco mais de uma hora. Era a última noite em Altura e no Piratas... e ele decidiu voltar e aproveitá-la até ao fim.

- Ana! Vou confidenciar-te algo...
- Conta, Carlos.
- Estavamos a tapear em Ayamonte e o que todos queríamos era voltar para aqui!
Conheci o André e a Márcia na concentração de motas de Faro. E parece que há mais de mil anos me dou com estes deliciosos seres. Ri-me e contei-lhes a história das "pastilhas nas bebidas".

Há muitos, muitos, anos, quando as vizinhas ainda não estavam habituadas a que existisse vida noturna em Altura, exprimiam a incompreensão que tinham quanto ao sucesso do bar, com uma curiosa equação: "O sítio com o café mais caro e sempre tão cheio de gente? Eles devem pôr pastilhas nas bebidas para viciar as pessoas e fazê-las voltar! Só pode ser isso!"
Há duas décadas que eu e o capitão nos rimos com esta infantil pérola de difamação.
Há magia, sim. Mas não é servida em comprimidos colocados nas bebidas. O Piratas vicia com a energia intensa de lugar que tem alma própria. Vicia com o sabor das gigantes tostas e com o sopro literário que se impregna em cada caipira. Vicia com o casal sorridente que, atrás do balcão, esporadicamente se esquece de servir alguma bebida por estar tão empolgado em conversas. Vicia com as cores quentes e decorações que são pedaços de história. Vicia por algo intangível e inexplicável.
Não, não usamos pastilhas, só a alegria de estar sempre prontos a fazer novos amigos.

Ana Amorim Dias
(23/8/2014)

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