(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

Planeta da imensidão

Planeta da imensidão

Ontem, na Costa Vincentina:

- Deves ter vindo do planeta da água fria, tu...
Respondi com um sorriso. Ele deve ter razão. Quando estou nas ondas o termostato desativa-se.
Deu um mergulho rápido e saiu a tiritar. Já eu regressei lá para o fundo, para a distância exata que fazia o nadador salvador levar o apito à boca, hesitar, e não apitar. Um metro mais à frente e ele fá-lo-ia. A corrente puxava imenso mas, apesar da sova do mar rebelde, rebelei-me eu também contra as ondas que não me empurravam com todo o vigor que eu queria, e insisti em apanhar uma e outra e mais outra, até sentir as pernas como aço e a alma como uma pena.
"Do Planeta da água fria? Será? Se entrar no jogo do 'de que planeta vieste' a que conclusão é que chego? Do planeta da espuma? Do das palavras? Do planeta da liberdade ou do da emoção?". Acabei por esquecer o tema, de tão empenhada que estava em abraçar toda aquela energia.

Hoje, na costa algarvia:

- Vou andar de caiaque, vens?
- Não me apetece, vai tu.
Agradeci em silêncio. Não há libertação maior do que entrar na imensidão tendo por única companhia a silenciosa melodia de nós mesmos. Remei até estar bem longe da costa, oferecendo sempre a proa ao rebentar das ondas daquele encarneirado mar. O doce balanço do corpo. O brilho incandescente de milhares de pequenas cristas. O sol a aquecer-me inteira até me levar às explosões dos mais inocentes prazeres.
Voltei algum tempo depois. Remei para terra. Vinda do meu planeta. O da imensidão.

Ana Amorim Dias
4/9/2014

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